Junho - mês de festas
No nosso país o mês de junho é rico em festas e romarias, na nossa região temos para além dos festejos populares do Santo António, S. João e S. Pedro, a Senhora da Hora, a Santa Rita e o Senhor de Matosinhos.
Em Ermesinde a grande festa nesta altura do ano é a Santa Rita. Desculpem os leitores pela minha repetição, mas não resisti a revisitar um editorial que escrevi em 2006.
«Manhã cedo chegavam bandos de peregrinos, de Matosinhos, das terras da Maia, de Gondomar», do Porto [e até do lado de lá do rio Douro].
Vinham cumprir promessas, quase sempre a pé e muitas das vezes descalços.
Da Reguenga vinham mulheres alegres e divertidas, habituadas a grandes caminhadas diárias, tinham um ar fresco e caminhavam com ritmo certo sem nenhuma dificuldade, bem diferentes das estreantes nestas andanças.
Da Maia, Gondomar, Porto, Matosinhos, Valongo, Gaia, havia de tudo, os que chegavam de manhã e os que vinham para a festa durante a tarde.
Da parte da tarde chegavam as lavradeiras, vestidas a preceito, algumas já caminhavam com dificuldade, os sapatos novos começavam a apertar…
Adorava assistir a este desfile de velhos, novos e crianças a caminho da festa.
De vez em quando [surgia] um conhecido, um amigo da família da Maia, e lá ficavam à conversa, sobre a família, as culturas e o tempo. Mas sempre conversas curtas porque o objetivo era a festa.
As festas e as feiras eram as grandes oportunidades de encontro, divertimento, pretexto para exibir uma fatiota nova, para os jovens se conhecerem, para arranjar namorado, para as famílias combinarem casamentos.
A rua José Joaquim Ribeiro Teles enchia-se de pobres que exibiam as suas chagas e maleitas, e muitas cerejas, expostas em cestos enfeitados com rocas (ramos de cerejas, cheiinhos de frutos).
De onde a onde as mulheres dos tremoços, as bancas dos homens dos pirolitos e alguns doces.
Na estrada rapazolas vendiam refresco de limão e água ardente, em cântaros de cortiça revestidos a heras». (1)
A noite era da gente nova, especialmente dos rapazes, poucas raparigas saíam à noite.
Eu tinha a sorte de ter um irmão mais velho, jogava matraquilhos e com ele andava nos carrinhos elétricos, nas cestas e carrosséis.
Em casa dos meus tios, como em muitas outras era dia de almoço de festa da família e, ao fim da tarde, lá estávamos todos em exposição, encostados ao muro, a ver as pessoas que regressavam da festa, cansadas, algumas de sapatos na mão e muitos embriagadas, esse era o nosso jogo, contar os bêbados organizados por categorias e grau… e ríamos muito com os disparates que eles faziam e diziam.
Ouvir as bandas, bem como ver a procissão, era uma obrigação que eu cumpria com muito gosto.
A segunda-feira de Santa Rita era o dia da gente da terra, organizavam-se piqueniques à sombra das carvalheiras e algumas já tinham lugares certos.
A Santa Rita lá está e continua a ser venerada por muitos devotos, mas a rua já não se enche de gente festiva, de crianças que se encantavam com uma roca de cerejas…
Esta felicidade que se repetia perdeu o sentido, hoje acredita-se que a felicidade tem que ser reinventada…
«Lutamos por uma sociedade e uma vida melhores, procuramos incansavelmente os caminhos da felicidade, mas nada garante que alcançaremos aquilo que nos é mais precioso: a alegria de viver». (2)
(1) Fernanda Lage, Editorial de “A Voz de Ermesinde”, junho de 2006.
(2) Gilles Lipovetsky, “A Felicidade Paradoxal – Ensaio sobre a Sociedade do Hiperconsumo”, pág. 317.
Por:
Fernanda Lage
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