Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 11-06-2013

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    Coração português

    Cá estamos em junho, com várias comemorações dignas de registo. Uma delas é o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Faço um flashback ao noticiário de um sábado de manhã que tem por hábito convidar figuras públicas para comentarem os temas da atualidade. O convidado dessa semana estava ligado à área da música, profissão que tinha preferido à de arquiteto. Dizia que para se ser competente, exigente e rigoroso, em qualquer profissão, tem que se estar a tempo inteiro, e na escolha que precisou de fazer, quando terminou o seu curso, tinha ganho a música. Pediram-lhe a opinião sobre os factos políticos – referiu, desde logo, que tinha como preferência falar sobre factos lúdicos e culturais, porque considerava-os igualmente importantes para as pessoas que nem sempre tinham que ser invadidas pelo cenário negativo que é apanágio de tudo o que se aborda em notícias da atualidade, contudo não se coibiu de comentar com uma pertinência que me prendeu a atenção, os temas políticos e dignos de registo para essa semana.

    Ao falar da Europa referiu um conceito muito seu e a ideia com que tinha ficado aquando da constituição da União Europeia: uma “federação” de países em que, cada país, cada nação, mantinha o seu hino, a sua bandeira, a sua história e a sua cultura. Nesse cenário existiria um poder central, com representação dos interesses de todos os Estados e todos seriamos “transeuntes” da oportunidade do que quer que seja, movendo-nos livremente entre os países que a constituem. Em caso de dificuldade apoiávamos e seríamos apoiados – uma equipa em que o forte ajudaria o fraco e vice-versa. Foi-se dececionando porque assim não é. Aqui, pensei eu que efetivamente é uma outra forma de ver as coisas e até não seria mal pensado se fosse possível pôr isso em prática por um topo equitativo, que se entendesse na justa aplicação de direitos e deveres. Depois ponderei na utopia dessa ideia tendo em conta que é impossível conseguir isso numa escala reduzida: em ambientes de convívio de trabalho, com vizinhos e até com pessoas unidas por laços afetivos/familiares, o que nos faz viver muitas vezes de costas viradas. Extrapolando, seria impossível que isso fosse viável acontecer numa grande escala, como é caso da Europa.

    foto
    Quanto ao nosso “movimento”, pela geografia europeia e muito para lá dela, já é tradição mais que secular que se viaje, para aprender novos conceitos, novas filosofias, aprimorar o intelecto e o saber e voltar-se maduro e pleno de conhecimento, que de seguida se partilha em teorias, ciências, literatura, desporto, entretenimento, etc.. Terá sido isso mesmo que gerou a necessidade que as pessoas sentiram de construírem pequenas extensões do nosso país e que espalharam por esse mundo fora em Comunidades e Associações onde se esforçam por manter vivas as tradições que por cá deixam. São um ponto de referência para quem tem que se ausentar e vai na procura de um bocadinho da sua casa, que fica longe, às vezes demasiado longe. Foram-se tornando num ponto de encontro para quem tem coração português e para quem gosta da forma como bate e sente o nosso coração. Pelo que percebo, está a fazer-se um bom trabalho nesse sentido e é preciosa a contribuição das famílias e dos nossos “embaixadores”, que recordo desde há muitos anos ver nos aeroportos: jovens com bandeiras de Portugal amarradas às suas mochilas quando viajam ao abrigo de programas de intercâmbios escolares, provas desportivas e tanto mais.

    O amor ao país de cada um está muito para lá de uma linha fronteiriça e isso poderá ser genético, transmitido pelo sangue, mas poderá muito bem vir do berço, a forma como se educa – a respeitar, a defender e a amar um país, identificado pelas cores de uma bandeira. “É de pequenino que se torce o pepino” e certo é que não nos podemos desresponsabilizar dos ensinamentos de cidadania que temos e devemos passar às gerações que nos vão suceder uma missão que começa em casa, com a “exclusividade” da família. Não pode, de forma nenhuma, esperar-se que seja incutida somente quando se vai para a escola, porque isso, por si só, não chega: é trabalho conjunto, meticuloso e diário. Se for bem feito pode ter-se a sorte de assistir àquilo que vejo: jovens com descendência lusa e “estrangeiros” que aprenderam a amar o nosso país de tal forma que não se coíbem de “vestir a nossa camisola” e exibi-la em redes sociais, amarrar lenços nos seus capacetes de “motards” ou colocar símbolos que os ligam a Portugal – assim se criam novas raízes que regressam, partem e trazem novas gentes que ajudam ao nosso desenvolvimento.

    Há tempos atrás vi escrito num outdoor: «Quem entra no coração de uma criança com amor fica lá para toda a vida» – uma das “chaves mestras” para se chegar às crianças que aprendem desta forma a amar os seres humanos, todos os seres humanos, de todos os países. Por sua vez, é da competência dos países saberem entrar no coração dos seus meninos e esta é a forma que escolhi para terminar esta reflexão – lembrar junho, que também tem no seu calendário um dia em que são lembradas as crianças de todo o mundo e a quem presto uma homenagem: sem divisão de linhas fronteiriças, de raças e de credos religiosos. Nós nunca sabemos se um dia o nosso país os acolherá como os adultos de amanhã e oxalá que nunca na condição de “meninos bomba” que tenham crescido, ensinados a ser adultos extremistas, que “amam para além da vida”, neste caso a morte, que espalham pelos quatro cantos do mundo e duma qualquer sociedade que os está a moldar. Era difícil esquecer isto, neste dia de sábado em que também era notícia o jovem de 19 anos que assumia (juntamente com o irmão, que tinha morrido) a responsabilidade por mais um atentado, deixando o mundo atónito e chocado.

    Numa convicção (muito minha) e acreditando que cada um dará a mão à criança que está ao nosso alcance amar, proteger e educar, gostaria de pensar que, um dia, Portugal possa ser encarado como um país de oportunidades – a escolha dos tais “transeuntes” que podem ser os tais meninos de hoje e os adultos de amanhã, que nos visitem e queiram ficar, colorindo o nosso país de multiculturalidade, de sorrisos (na vez de bombas), de artes e de ofícios. Deixo o exemplo que encontrei através das redes sociais (para mim úteis como fonte de aprendizagem) – a Elizabeth, uma mulher americana e que já foi menina do seu país. Escolheu-nos há 30 anos e através das fotos que partilha em “Átrio”, é mais que percetível a paixão que a liga a Portugal, o país que corre lés a lés na procura da nossa história, em azulejos, uma das suas grandes paixões expressas nos seus trabalhos. Uma particularidade singular e exemplo disso foi quando anuiu ao meu pedido na utilização de uma foto ilustrativa recomendando-me esta – de “verdadeira prata portuguesa”, como faz questão de honrar o que é português…o que é bom, o que é nosso.

    Por: Glória Leitão

     

    Outras Notícias

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].