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    Arquivo: Edição de 30-04-2013

    SECÇÃO: Editorial


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    Rituais de primavera

    A humanidade, atenta ao meio que a envolve, sempre encontrou explicações e significados para a transformação do tempo, com especial incidência nas mudanças das estações do ano.

    A primavera é no entanto aquela que apresenta um maior número de inventos e rituais, muitos deles atualmente associados a atos ou acontecimentos religiosos.

    Com o início da primavera tudo se quer puro e limpo, época das grandes limpezas e recuperação das casas, a Páscoa é esse marco cheio de significado em que se preparam e enfeitam as casas para receber o Senhor.

    Segue-se o Primeiro de Maio com toda a tradição dos Maios e das Maias, o País enfeitava-se de flores das giestas – as maias – para que o carrapato não entrasse nas casas.

    Lembro-me de, na Maia, se fazerem coroas com giestas e rosas que se colocavam nos portões e portas de entrada das casas de lavoura e de ter andado vestida de branco com uma coroa de maias com brincos de princesa.

    Estes festejos do Primeiro de Maio nada têm a ver com o Dia do Trabalhador, refiro-me a outro tipo de cerimónias, de crenças pagãs muito antigas, em que se acredita que «o Primeiro de Maio corresponde à noite de Valpurgis, que a demonologia medieval germânica povoou de bruxas invisíveis que andavam no ar a praticar as suas obras infernais, certamente por herança da crença pagã nos espíritos nocivos do Inverno e da Morte, de que era necessário purificar ritualmente a terra no início do ano agrário». (1)

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    Em Portugal as flores são as maias, mas nos últimos anos já poucas são as pessoas que as colocam nas casas. Quando era pequena lembro-me de ver maias nas casas, nos carros de bois, nos animais e até nas máquinas dos comboios.

    Hoje são muito raras as pessoas que continuam a colocar giestas nas portas, a porta deixou de ser o limite da privacidade, a comunicação social invade-nos e os demónios entram nas nossas casas com giestas ou sem elas, eles continuam por aí, difícil é encontrar rituais que os expulsem…

    No sul do País a tradição dos Maios e das Maias, bonecos feitos de palha centeia vestidos de trapos ainda não se perdeu de todo, que o digam os habitantes de Olhão.

    Depois das Maias e dos Maios, o Dia da Espiga.

    Herdeiros de tradições ancestrais, os portugueses sempre souberam associar as velhas lendas, crenças e memórias ao calendário litúrgico, como no Dia da Espiga.

    Associado à 5ª feira da Ascensão, quarenta dias depois da Páscoa, temos o Dia da Espiga, foi noutros tempo um dos feriados mais santos, até este já acabou há muito!...

    Dia sagrado e festivo em que o trabalho era completamente posto de parte, nalgumas regiões até as refeições eram preparadas de véspera.

    Nesse dia destaca-se o período que vai do meio-dia à uma hora da tarde – a Hora –

    Era tempo mágico em que a «água não corre no rio, os pássaros não bolem no ninho, o pão não leveda, o leite não coalha». (1)

    As pessoas iam ao campo apanhar a “espiga”, raminho constituído por espigas de cereais, pampilhos, margaridas, papoilas e ranquinhos de oliveira, todas estas plantas com um significado simbólico. A “espiga” era guardada na cozinha ou na sala até ao ano seguinte.

    A primavera foi e continua a ser motivo de inspiração e renovação cultural, é disso testemunho a Sagração da Primavera, criação do músico Igor Stravinsky, do filósofo e pintor Nicholas Roerich e do coreógrafo Vaslav Nijinsky, que marcou a história da música e da dança do século XX. Mais uma vez um exemplo de rutura e inovação tão necessária nos nossos tempos.

    (1) Ernesto Veiga de Oliveira, “Festividades Cíclicas em Portugal”, Publicações Dom Quixote,1984.

    Por: Fernanda Lage

     

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