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    Arquivo: Edição de 17-08-2012

    SECÇÃO: Música


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    Entrevista com o jovem guitarrista Filipe Ribeiro

    É verão, já só nos apetece estar de férias. Quem trabalhou arduamente durante o ano lectivo goza agora o seu merecido descanso. É o caso de Filipe Ribeiro, estudante de guitarra, o próximo músico da nossa terra a ser entrevistado. Um guitarrista de formação totalmente oposta à que foi referida na primeira entrevista desta série, se o leitor bem se lembra.

    AVE - Desde já obrigado pela disponibilidade em me poderes dar uma entrevista. Estás com bastantes projetos para concretizar nesta altura, sejam em palco ou nas salas de aulas?

    F.R. - Eu é que agradeço o convite, é sempre bom poder falar com um amigo e um excelente músico. Nesta altura já estou de férias, o trabalho nas escolas onde leciono, na Escola de Música Óscar da Silva e no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, está acabado e de momento não tenho nenhum recital marcado durante este mês. Como sabes, é bastante difícil termos oportunidade para mostrarmos o nosso trabalho.

    AVE - Sentes-te mais realizado enquanto professor ou enquanto instrumentista de palco?

    F.R. - Nas duas vertentes, e não é uma resposta politicamente correta. Quando ensinamos e transmitimos conhecimento isso faz com que nos tornemos melhores professores e melhores músicos. Aquilo que dizemos aos nossos alunos é aquilo que no fundo também devíamos fazer quando estamos a estudar e por vezes nos esquecemos, por isso as aulas também são uma aprendizagem para mim.

    AVE - Da tua experiência enquanto professor, como te caracterizas?

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    F.R. - Não sou um professor autoritário, não tem a ver com a minha personalidade. Mas sou tão exigente com os meus alunos como sou comigo, ou seja, muitíssimo. Sou uma pessoa bastante paciente e não digo aos meus alunos para fazer isto ou aquilo só porque sim, tento sempre explicar porque pretendo que façam algo de determinada maneira; acho que a melhor forma de se sentirem motivados a fazerem algo é perceberem exatamente o que se pretende. E, acima de tudo, procuro que os meus alunos sejam o mais independentes possível e que tenham uma atitude de busca, curiosidade e pesquisa constantes.

    AVE - Já tiveste alguma situação engraçada ao tocar em público?

    F.R. - Aconteceu-me uma vez, ainda era aluno da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE), ser convidado pela escola para tocar no Hospital de Gaia, numa iniciativa de promoção da música junto dos utentes. Alguns colegas de classe juntaram-se e, supostamente, iríamos tocar num auditório próprio para o efeito. Afinal, acabámos por tocar numa sala de espera, enquanto ouvíamos os médicos chamarem pelos utentes e nós pouco a pouco ficávamos sem público!

    AVE - Há uma motivação especial na carreira artística ou esta categorização "carreira artística" é algo que não te aflige?

    F.R. - Não me preocupo muito com isso, concentro-me em tentar atingir os objetivos a que me proponho, como professor e como intérprete, e ponho todo o meu empenho em tudo aquilo que faço. É algo que se vai construindo e não um objetivo em si.

    AVE - Desde quando é que vem esse amor artístico?

    F.R. - Sempre gostei muito de música mas era uma pessoa muito introvertida e só comecei a aprender a tocar guitarra bastante tarde, aos 16 anos, numa escola em Ermesinde, a Harmoritmo. Nessa altura nunca me passou pela cabeça ser um músico profissional ou professor, tocava apenas por prazer e também tocava guitarra elétrica. Só que quando um colega me emprestou um CD do guitarrista clássico John Williams, eu pensei: «É isto que eu quero fazer!». Entrei na faculdade no curso de Farmácia mas pouco tempo depois desisti e decidi dedicar-me a tempo inteiro à música e à guitarra. Fui à ESMAE falar com o professor José Pina e perguntei o que era preciso para entrar ali; surpreendido, perguntou-me o que é que eu sabia, que naquela altura, era pouquíssimo. Foi então que me indicou o professor Paulo Ramos e em 2003 ingressei na Escola de Música Óscar da Silva onde concluí o 8º grau em 2006; tive também a oportunidade de estudar com a professora Maria Paula Marques nessa mesma escola. Posteriormente, ingressei na ESMAE em 2007 e concluí a licenciatura em 2010, onde estudei com os professores José Pina e Artur Caldeira.

    AVE - E planos para o futuro?

    F.R. - A partir de setembro deste ano vou frequentar o mestrado em guitarra clássica – performance na Royal Academy of Fine Arts and the Royal Conservatory (School of Arts of University College Ghent) na Bélgica, onde terei a oportunidade de estudar com o professor Johan Fostier. É uma nova fase na minha vida e estou muito entusiasmado e ansioso por começar a trabalhar neste novo projeto.

    AVE - Qual a razão de continuar a estudar fora do país?

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    F.R. - É uma escola com excelente nível a guitarra e com ótimas condições para o meu desenvolvimento no plano artístico.

    AVE - Em que género te sentes mais à vontade enquanto guitarrista?

    F.R. - A música que me desperta mais interesse é a música renascentista, barroca e, principalmente, a música contemporânea; gosto de tocar peças de novos compositores e ajudar a divulgar música não tão conhecida do público em geral; aliás, é algo que quero fazer durante o mestrado.

    AVE - Tens algum guitarrista que seja como que um ídolo para ti?

    F.R. - Gosto de muitos guitarristas e de vários estilos musicais diferentes, desde Andrés Segovia, John Williams ou David Russell, passando por Paco de Lucia até Egberto Gismonti, Jimi Hendrix e Jonny Greenwood... algumas das minhas referências até nem são guitarristas, como por exemplo o pianista Sviatoslav Richter que eu adoro; mas o guitarrista com que mais me identifico é o inglês Julian Bream.

    AVE - Já tiveste oportunidade de tocar em Ermesinde?

    F.R. - Sim, uma ou duas vezes, nessa altura tinha começado a aprender por isso não sei se conta! (Riso)

    AVE - Consideras esta cidade dinâmica em atividades culturais?

    F.R. - Julgo que sim, mas acho que se pode fazer um pouco mais no que diz respeito à diversificação da oferta de atividades culturais, nomeadamente no campo da música erudita.

    AVE - Na generalidade, que te parece Ermesinde?

    F.R. - Gosto de viver cá, é uma cidade acolhedora e relativamente calma, que são qualidades que eu aprecio. Vou ter algumas saudades, agora que estou de partida para a Bélgica.

    AVE - Sobre este jornal, “A Voz de Ermesinde”, costumas ler?

    F.R. - Está bem organizado e tem conteúdos relevantes para o leitor. Agradeço o convite e a oportunidade da entrevista para o jornal.

    Por: Filipe Cerqueira

     

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