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    Arquivo: Edição de 30-05-2012

    SECÇÃO: Opinião


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    Miguel Relvas em apuros

    São pouco mais de dezassete horas do dia vinte e sete deste mês de Maio quando estou a escrever estas linhas. Com a velocidade que os acontecimentos políticos atualmente adquirem no nosso país, pode bem acontecer que as nossas perceções sejam completamente desmentidas pelos factos que entretanto ocorrerão entre o presente momento e aquele em que os prezados leitores de “A Voz de Ermesinde” possam ler a edição onde o nosso escrito será inserido.

    O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, tem vindo a ser fustigado no âmbito do dossiê conhecido pelas “Secretas”. As relações de proximidade mantidas com o ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) têm-lhe causado alguns engulhos, agravados pela circunstância daquilo que é próprio do político: começar por negar tudo na esperança de que o seu poder e as “tropas de choque” consigam retirar o assunto da agenda informativa, substituindo-o por outro ou outros que o façam esquecer.

    Neste caso, porém, as coisas parece não estarem a correr de feição e, cada dia que passa, a “nebulosa” é cada vez mais espessa, havendo já quem avente a hipótese da demissão do ministro estar para muito breve. Quem tal admite escudar-se-á na consequência lógica e coerente com as afirmações do primeiro-ministro que oportunamente disse de forma clara que «quem mentir sai do Governo».

    Ora, retendo algumas afirmações de Miguel Relvas, nomeadamente aquelas que proferiu no Parlamento à interpelação da deputada Cecília Honório, quando lhe pergunta «o senhor, desde que é ministro, nem tem contactos, nem informações particulares, nem qualquer espécie de responsabilidade sobre serviços de informações? Nem o senhor ministro nem ninguém do seu gabinete mexe naquilo que diz respeito aos serviços de informações?», interpelação que mereceu do ministro a resposta de «Não, não, não e mais um não».

    Acontece que para gáudio dos partidos da oposição e embaraço dos que suportam o Governo, o que a comunicação social vem relatando torna difícil a Passos Coelho resolver a quadratura do círculo: manter intacto o seu Governo e demonstrar respeito pela sua afirmação de punir os governantes que sejam apanhados a mentir.

    É claro que cada um dos “beligerantes” se esforçará por, recorrendo a toda a dialética disponível, procurar demonstrar que a razão está do seu lado. Mas a recente demissão de Adelino Cunha, jornalista que foi adjunto de Miguel Relvas até renunciar ao cargo, ao que parece por entretanto se saber que trocara mensagens com o ex-espião Jorge Silva Carvalho, torna as coisas muito complicadas para o primeiro-ministro e seu partido, com alguns incomodativos salpicos para o seu parceiro de coligação.

    Com efeito, a demissão de Adelino Cunha e o que entretanto a comunicação social “espiolhou” num processo judicial, deu ensejo a que «o BE anunciasse que vai chamar novamente Relvas à AR, por considerar que mentiu aos deputados». É esta afirmação que nos leva a admitir a dificuldade do primeiro-ministro em “segurar” o seu colaborador mais próximo que, para alguns, está a fazer um trabalho de elevado valor político.

    É dos livros que num político que se preze, a mentira no exercício das suas funções é mais natural que o ar que respira, decorrendo desse facto a compreensão para os exercícios de contorcionismo que os eleitos fazem para simularem que estão a governar de acordo com as promessas feitas durante as campanhas eleitorais, quando toda a gente experimenta as consequências das suas omissões ou de práticas completamente opostas ao prometido. Mas, mesmo dando de barato esta realidade, é pena que políticos experimentados, conhecedores do poder que os media têm, e não sendo crível que ignorem que hoje ninguém se esconde no mundo onde a comunicação se processa à velocidade da luz, continuem a comportar-se como se estivéssemos no tempo da pedra lascada ou sujeitos ao lápis azul da Censura e do “Visto Prévio”.

    Ninguém saberá como este “folhetim” vai acabar. Será lamentável se se confirmar a profecia de Marcelo Rebelo de Sousa quando disse que a escolha de Miguel Relvas para o Governo era um erro de casting. Mas, seja qual for o desfecho, seria bom que os atuais e futuros governantes interiorizassem que, quando rebenta um escândalo que eles saibam ser verdadeiro, em vez de o negarem escondidos atrás de jogos de sombras, se demitam imediatamente, em solidariedade com os seus colegas e no respeito pelos verdadeiros problemas que o País enfrenta, cujas soluções são por isso adiadas, consumindo energias aos decisores e ocupando na comunicação social tempo e espaço que lhes deveria ser totalmente reservado.

    O bom nome de Portugal, os verdadeiros interesses dos portugueses, a ética republicana e o respeito pelas regras da democracia, são valores que devem preceder quaisquer outros de índole partidária ou pessoal. Quem possa fazer alguma coisa pela realização de tão nobres objetivos, certamente que os cidadãos penhoradamente lhes agradecerão.

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

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