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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2011

    SECÇÃO: Música


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    Um ano de crónicas – retrospetiva

    Desde Novembro de 2010 que escrevo neste jornal. Nas minhas primeiras lembranças está a preciosa ajuda deste jornal num trabalho para a disciplina de Área de Projeto que o meu grupo desenvolveu sobre ambiente. Fomos retirar muita informação na secção de Maleitas da cidade de Ermesinde: buracos nas estradas, sujidade nos passeios, obras por fazer ou com grandes atrasos ou mesmo mal feitas; programas de formação para os cidadãos junto do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental, entre outras atividades divulgadas aqui.

    Escrever crónicas neste jornal era algo que tinha em mente e em que fui pensando quando cheguei do meu ano de Erasmus em Budapeste, como forma de poder partilhar alguns pensamentos sobre aspetos da Música, como a educação e as várias maneiras de termos conhecimento sobre esta arte, concertos que tivesse visto e que me marcassem, tanto na Hungria como por cá, no Porto.

    Sempre gostei de tomar notas sobre o que me acontece no dia a dia. O que não falta cá em casa são papéis cheios de apontamentos referentes a temas que me tenham despertado a curiosidade. Palavras ditas por estranhos, atos de professores, músicas que me deram que pensar.

    Nos programas dos concertos, por exemplo, acabo sempre por escrever a minha impressão, o meu juízo de valor. De vez em quando vou lá para me lembrar a opinião que tinha sobre algum músico ou banda e ver quanto mudou depois dessa altura.

    Durante este ano algumas muita coisa foi mudando e se foi mantendo.

    Se formos a constatar no plano coletivo, no que mexe com a vida de todos os nós, fomos chamados a votar e a decidir em algumas eleições. Por um lado Cavaco Silva foi reeleito como Presidente da República. Por outro lado, houve mudança na formação do Governo – passou de PS para PSD – mas os problemas graves ainda estão bem patentes. Veio o FMI e a intervenção da União Europeia. As perspetivas de qualidade de vida, principalmente para o setor público, foram-se degradando, sendo cada vez mais desanimadoras. Com esta mudança de Governo deixou de existir, para o bem e para o mal, o Ministério da Cultura, passando a ser Secretaria de Estado. Mas continuando a série de broncas que vão aparecendo por esse lado da governação, basta lembrar o caso recente da direção do Teatro D. Maria II, em Lisboa. E os problemas na Capital Europeia da Cultura – Guimarães 2012.

    O ESPETRO

    DA CRISE

    O espetro da crise levou muitas pessoas a serem mais seletivas no seu nível de participação dentro da sociedade, nas formas de apoio, divulgação e participação em cultura. A crise, infelizmente, já não é de agora. Seja ela qual for, ela revelou um grande problema, no meu entender: é que muitas vezes a "crise" é um facto – indesmentível e cada vez mais agudo – usado para disfarçar uma atitude que não é de agora, a de não se ter por hábito imergir em cultura. Consumir cultura, como agora se diz, através da compra de CD's, DVD's, livros, bilhetes para os mais variados espetáculos, sejam de ópera, teatro, ballet, sejam concertos, conferências, apresentações de livros, exposições e idas a museus, etc.. Tudo isto são formas de valorizarmos a vida humana, a nossa própria vida, para ela não empobrecer, para podermos ter uma visão mais funda, mais enraizada na nossa própria cultura. O relacionamento com as pessoas ao nosso redor, a procura do nosso lado mais crítico, mais informado, com noção maior de pertença aos valores mais importantes da Humanidade. Sem Cultura, e por conseguinte com maior ignorância, as vidas humanas tendem a perder a noção do seu espaço nas sociedades, perdendo pragmatismo e visão de futuro. Se só estivermos preocupados com o que é nosso, com as nossas atividades, por mais gratificantes que elas sejam para nós, não saberemos que só somos uma ínfima parte do mundo, dessa imensidão de vontades e sonhos. Saber que sabemos é também saber partilhar, com uma relação frutuosa para todas desde que seja mútua, como é óbvio. Não podemos partilhar sem sermos recompensados por isso, já que do nosso saber provém um resultado de procura, de trabalho. O que talvez falte hoje é essa noção de que por detrás do resultado muitas horas foram passadas a matutar no assunto, que não é de ânimo leve que alguém se levanta e passa horas a fio numa atividade e que os outros possam tomá-la como "inspiração". Esta advém do trabalho, da relação com os outros.

    FADO – PATRIMÓNIO

    DA HUMANIDADE

    Pintura MALHOA
    Pintura MALHOA
    Talvez por isso, o facto do Fado, canção urbana portuguesa, ter sido eleita como Património Imaterial da Humanidade é de salientar como facto nacional.

    É verdade que ela se desenvolveu e é maioritariamente ouvida em bairros típicos de Lisboa. É verdade que muitas vezes foi usada para fins políticos pelo regime ditatorial de Salazar, mesmo que nos inícios do Estado Novo tenha sido posta de lado por ser tomada como afronta à moral dos bons costumes. É verdade que podemos ouvir a palavra Fado e pensar logo em tristezas e saudade. Mas é também verdade que se formos a qualquer lado e dissermos que somos de Portugal, dizem logo "Amália", "Fado", música linda, cheia de força. Cria-se logo uma empatia, uma sensação de pertença do mundo, somos recebidos de igual para igual, somos irmãos.

    Esta eleição é positiva para nós. Parabéns a todos que para isso contribuíram.

    Afinal há boas notícias, exemplos positivos, por forma a revelar que a sociedade continua a mexer-se, mesmo que em ações que pareçam pequenas, simbólicas. São todas essenciais nos dias de hoje. Felizmente que em muitos dos concertos a que vou e em que toco, ainda há gente que resiste e que faz um esforço por valorizar o trabalho dos artistas. A maior recompensa para a alma de um artista é o reconhecimento pelo público, se houver qualidade, mas para o corpo há que também defender os artistas, pagando-lhes o valor devido pelo seu trabalho, pois ninguém vive do ar. Muitas vezes se pede uma participação aqui e acolá de graça, como se nos estivessem a fazer um favor, mas entretanto precisamos de comer para podermos estudar e estar ao nosso melhor nível perante o público. A crise serve de desculpa para tudo, infelizmente.

    TEMPO

    DE MUDANÇAS

    Houve muitas mudanças no ramo de ensino de Música, nas Academias, Escolas Profissionais e Conservatórios. Só o tempo pode dizer se para melhor ou não. O que se nota, para já, é um constrangimento enorme entre aquilo que se quer fazer a nível pedagógico e os meios dados no financiamento, com maior burocracia. Se antes um músico podia dar aulas, partilhando os seus conhecimentos, agora tenta--se aproximar esse ensino ao de Português ou Matemática ou outra disciplina qualquer, sem ajuste ao ensino de uma arte que, em muito do seu desenvolvimento, se faz com um ensino focado para o indivíduo e não para uma assembleia de alunos. Estudar um instrumento, seja piano violino, piano ou canto é muito complicado quando feito para muitos alunos ao mesmo tempo. Não impossível, como já pude fazer nas aulas, mas com outro tipo de resultados. Mas esta é forma encontrada de diminuir os gastos por parte do Estado com os professores. Veremos como será daqui a um ano, se haverá mais professores desempregados ou a recibos verdes.

    DO GERAL

    PARA O PARTICULAR

    Se passar do geral para o particular, iniciei o Mestrado em Performance na Escola Superior de Música e das Artes do Espetáculo, no Porto, sob o tema: “Obra para Piano de Joaquim Gonçalves dos Santos”, compositor português de Cabeceiras de Basto, que viveu de 1936 a 2008.

    Voltei a dar aulas e a fazer acompanhamento ao piano de aulas de violoncelo, violino, canto e outros instrumentos, tal como de aulas de ballet. Este ano comecei também a fazer o Mestrado em Ensino na Universidade de Aveiro. Em ambas as escolas na classe de Pedro Burmester, antigo diretor artístico e de Educação na Casa da Música.

    Veremos como será daqui a um ano. A esperança deve estar sempre connosco.

    E este jornal, pelas notícias positivas e importantes para e sobre a nossa sociedade ermesindense, assim nos vai ajudando.

    Por: Filipe Cerqueira

     

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