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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-12-2010

    SECÇÃO: Editorial


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    Por entre as nuvens o sol brilhou

    Este Natal encoberto não queria que eu visse o Sol, mas teimosamente ele rompeu, sempre por voltas das 10 ele brinda à minha janela, depois de ter dado uma voltinha por detrás da montanha – é só para me enganar!...

    Gosto que o Natal tenha sol, que me aqueça, que me dê força para continuar…

    Este ano o Sol bailou entre nuvens, que pareciam fumaças que nasciam das zonas mais arborizadas e vi o arco-íris!, que me encheu de alegria.

    Mas desfez-se num momento, nem deu tempo de imaginar onde nasceu…

    Gosto de ver o seu começo, o seu caminho e depois aquele prolongamento para o infinito que nos diz: – Vale a pena continuar!

    O Natal é como o arco-íris, belo, colorido, com todas as cores, mas apenas dura um momento e o ano é feito de muitos momentos, alguns bem sombrios, opacos, onde é difícil encontrar um caminho.

    Este Natal foi isso mesmo, um momento, um momento que para alguns foi de partilha e alegria, mas só e apenas um momento porque, por muito que se diga, o Natal não é quando eu quiser.

    Para muitos não vai haver pão todo o ano, para muitos a vida desmoronou-se, sem emprego, sem amor, sem conforto, sem caminho…

    Não basta dizer que o caminho se faz caminhando, cada um tem de saber o que procura e o ser humano precisa de apoios materiais para sobreviver.

    Não chega dizer que vivemos em democracia, que temos uma escola pública para todos, porque não somos efectivamente todos iguais.

    Há um mínimo a que todos temos direito para viver com dignidade, e é esse mínimo, que cada vez se torna mais difícil para um grande número de seres humanos.

    Neste Natal senti-me desconfortada, impotente, porque não consigo encontrar um caminho, uma saída para este país.

    Neste Natal eu senti revolta, ao ver os luxos de alguns, os anúncios, a afronta dos programas televisivos, que fazem dos seres humanos palhaços e em que se tira partido da pobreza dos outros.

    Neste Natal eu senti-me muito pequena, senti pela primeira vez que um grão de areia é muito, muito pouco.

    Neste Natal eu vi e ouvi a indiferença dos filhos que partem em viagem e largam os pais sozinhos.

    Neste Natal eu ouvi os filhos, os filhos que fogem mas chamam os pais.

    Neste Natal eu vi a revolta da mãe que quer dar e não tem…

    Neste Natal eu ouvi um homem chorar porque não aguentava a solidão.

    Neste Natal eu vi um jovem desesperado que já não acredita em nada porque a vida se tornou um pesadelo.

    Neste Natal eu vi a fome, eu vi a guerra, eu vi os abandonados, os presos e os doentes.

    Neste Natal eu tive medo, um medo imenso, por mim e pelos outros.

    Neste Natal eu tive receio de me tornar egoísta, de esquecer os outros por não acreditar em ninguém.

    Neste Natal eu tive medo de não voltar a ver o Sol, porque as nuvens são muitas.

    Mas mesmo assim o Sol brilhou, encoberto pelas nuvens, mas brilhou…

    Por: Fernanda Lage

     

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