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    Arquivo: Edição de 20-12-2010

    SECÇÃO: Editorial


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    Em busca do Natal

    O Natal é um marco de grande significado na sociedade portuguesa, essa modernidade de achar que os dias são todos iguais retiram ao tempo o seu significado, em muito marcado pelas festas litúrgicas, sempre pretexto para realizar festas de família e amigos.

    Esta partilha, estas pausas tão criticadas, que nalgumas vozes parece que são a origem de todas as desgraças da economia, tornam a vida mais humana e menos mecanicista. Organizam a sociedade tendo em conta essas pausas, alternando-as, mas mantendo valores na memória das pessoas. Se esses valores não são respeitados nem lembrados, que não seja por decreto!…

    Na nossa terra as passagens litúrgicas eram pretexto para a realização de festas familiares. Ainda hoje no nosso país os nossos imigrantes ou deslocados noutras cidades regressam às suas terras no Natal, nos dias da festa dos seus Padroeiros ou Santos de devoção.

    O Natal transformou-se na festa das crianças, independentemente de, na sua origem, estar o nascimento de Jesus em Belém. Cá, como noutros países da Europa, durante o século XIX e início do século XX, «(…) A família investe nas festas cristãs para se auto-celebrar» (1) em especial as famílias com mais posses.

    A segunda metade do século XX foi pródiga em transformações consumistas que se prolongaram pelo século XXI, retirando todo o sentido a esta festa de família no que ela tem de mais profundo, «(…) seja-se ou não crente, vá-se ou não à igreja, é do calendário cristão que se depende». (1)

    Sempre associei o Natal ao presépio, à família, a árvore na minha casa apareceu mais tarde, no entanto seja no presépio, seja na árvore de Natal, seja no cimo de uma montanha ou na cidade, continuo à procura da Estrela de Natal!...

    Há uma lenda sobre o nome da Serra da Estrela que me vem muitas vezes à memória pelo que ela contém de luta e busca por um ideal, trata-se de um menino pastor que passou a sua vida a caminhar na busca de encontrar uma estrela que o chamava e convidava a subir a montanha, é toda uma vida que termina no cimo da Serra – «(…)Nos altos píncaros da serra, bem perto da sua estrela, viveu muito feliz os últimos anos de vida.

    Uma noite, o espírito de um menino pastor deixou um corpo muito velho, partiu para a luz da sua estrela…

    A estrela brilhou como nunca no firmamento…

    Foi tal o seu fulgor que as gentes da serra exclamaram:

    - Olha a Serra da Estrela!». (2)

    Cada dia que passa, eu sinto que cada um de nós precisa de encontrar uma estrela que nos dê força, que nos anime, nesta caminhada cada vez mais tortuosa. Para alguns o caminho tem sido uma verdadeira auto-estrada, onde se corre a grande velocidade, sem ouvir nem ver ninguém, para esses não há estrelas, porque não as conseguem ver, só se vêem a eles próprios, mas às vezes há acidentes de percurso e nas auto-estradas costumam ser fatais!

    Mais do que nunca o Natal não pode ser apenas uma festa efémera, uma consoada só para nós, neste Natal não posso esquecer todos os que sofrem na humanidade, todos os explorados e vítimas de todas as injustiças, todos os que têm fome de alimentos e de carinho, todos os que estão sós e abandonados, todos os que sabem ou sentem que vão perder o emprego, que procuram o Natal e não o encontram…

    Aos colaboradores de “A Voz de Ermesinde” um muito obrigado, pelo esforço que têm demonstrado no dia a dia, contribuindo desta forma para que “A Voz de Ermesinde” continue a ser uma voz atenta ao que de mais relevante vai acontecendo na nossa terra.

    Aos nossos leitores e amigos, sempre presentes nas nossas edições, motores da nossa busca e procura, a todos um Feliz Natal!

    (1) “História da Vida Privada” – Da Revolução à Grande Guerra. Sob a direcção de Philippe Ariès e Georges Duby, Edições Afrontamento.

    (2) “A Lenda da Serra da Estrela”, Maria José Meireles, Edição Húmus.

    Por: Fernanda Lage

     

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