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    Arquivo: Edição de 10-12-2010

    SECÇÃO: Local


    Para que a memória se não apague...

    Pires Veloso falou e encantou o Rotary Clube de Ermesinde!

    «Sou acérrimo defensor daquela máxima de Galileu Galilei que diz que “a verdade é filha do tempo”».

    Major-General Pires Veloso

    Fotos RCE
    Fotos RCE
    A noite de 22 de Novembro trouxe ao Rotary Clube de Ermesinde o testemunho de um dos personagens mais destacados nos tempos de instabilidade e de insegurança que caracterizaram o período que ficou conhecido como PREC (processo revolucionário em curso).

    Irresponsavelmente, houve quem procurasse atirar Portugal para uma guerra fratricida, com consequências inimagináveis.

    Porém – e como sempre se tem verificado ao longo dos quase nove séculos de História que levamos contados como país livre e independente – em momentos de particular gravidade aparece sempre alguém que, “fervendo-lhe no sangue o duro Marte”, é capaz de galvanizar um povo inteiro e fazer vingar a Liberdade, a Justiça e a Paz!

    Naquela hora dramática para a vida nacional, Pires Veloso foi o homem providencial que mudou o rumo da História e a quem, para sempre, ficaremos a dever estes bens!

    Quem é, porém, este homem ?

    De seu nome completo António Elísio Capelo Pires Veloso, nasceu na freguesia de Folgosinho, situada na encosta norte da Serra da Estrela, em 10 de Agosto de 1926.

    Até à reforma administrativa de Mousinho da Silveira (1836), Folgosinho foi sede de concelho. Actualmente, pertence ao concelho de Gouveia.

    Seus pais, professores do ensino primário, souberam transmitir-lhe, desde tenra idade, os valores da honra, do cumprimento do dever, do acrisolado amor à Pátria. De todos eles, deu o General Pires Veloso abundantes e claros testemunhos!

    Muito novo ainda, veio com a família para o Porto, onde fez os estudos primários e secundários.

    Seguiu-se a sua passagem, em 1944, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde cursou os então Preparatórios Militares.

    Foram também muito maus os tempos que se seguiram ao fim da II Grande Guerra Mundial e , pragmaticamente, Pires Veloso enveredou pela carreira militar, como forma de começar a ganhar dinheiro e assim aliviar um pouco a economia doméstica.

    É assim que o vamos encontrar no Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, donde segue para a Escola do Exército, hoje Academia Militar.

    Já como aspirante, retornará a Mafra para fazer o necessário tirocínio.

    Entre 1949 e 1951, prestou serviço em Macau, num período de grande tensão, com Mao Tsé-Tung, de olhos gulosos, a pretender a inclusão daquele território na imensa China.

    No regresso a Portugal, serve no Batalhão de Caçadores 7, bem no coração da cidade da Guarda.

    Durante a Guerra Colonial, fez uma comissão em Angola e três em Moçambique.

    Neste território, foi Chefe do Estado-Maior do Comando do Sector B, em Cabo Delgado, cujo quartel – general estava sediado em Porto Amélia, hoje Pemba.

    De 29 de Julho a 18 de Dezembro de 1974, foi Governador da então província ultramarina de São Tomé e Príncipe, tendo passado a Alto Comissário até à indepência do território em 12 de Julho de 1975.

    A 12 de Setembro de 1975, recebe do General Carlos Fabião, à data Chefe do Estado-Maior do Exército, a incumbência de comandar a Região Militar do Norte, onde se manteve até 1977, protagonizando um relevantíssimo papel na defesa intransigente dos ideais de Abril.

    Durante este período, integrou também o Conselho da Revolução.

    Passou à situação de Reserva em 14 de Março de1980, sendo graduado na patente de Brigadeiro, por decisão do Chefe do Estado-Maior do Éxército, e à situação de reforma em Agosto de 1991.

    Possui várias condecorações: Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma, Medalha de Mérito Militar de 2ª Classe, Oficial da Ordem Militar de Aviz, Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar, Medalha de Dedicação da Cruz Vermelha Portuguesa.

    «Considerando o papel fundamental na consolidação da democracia nacional durante o período em que comandou a Região Militar do Norte” a Câmara Municipal do Porto, em reunião privada de 2 de Junho de 2006, aprovou, por unanimidade,sob proposta do Presidente Rui Rio, a atribuição da Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro, ao Major- General António Elísio Capelo Pires Veloso».

    Mário Soares dá de Pires Veloso este insuspeito testemunho, bem revelador do elevado conceito em que o tem:

    «Um patriota, um homem de uma sinceridade e frontalidade à prova de bala, alguém que sempre agiu em favor do Povo, desinteressadamente».

    DESFIANDO

    UM ROSÁRIO

    DE MEMÓRIAS...

    foto
    Com a proximidade de mais um aniversário da data do 25 de Novembro – e já lá vão 35 anos! – impunha-se ouvir alguém que, tendo estado no olho do furacão, fizesse luz sobre alguns aspectos ainda hoje envolvidos em espessa nebulosa e que, por isso, continuam a escapar à boa compreesão de muitos portugueses.

    Em boa hora, o Rotary Clube de Ermesinde pensou em convidar o General Pires Veloso. De facto, ninguém melhor do que o “Vice-Rei do Norte” para o fazer!

    Revelando uma boa disposição contagiante, uma memória ágil e rigorosa, este Major-General do Exército Português prendeu de imediato os membros do Rotary Clube de Ermesinde e os muitos convidados que não quiseram perder a oportunidade de ver um verdadeiro protagonista relembrar factos e pessoas de um período crítico da recente História de Portugal!

    Questionado sobre o modo como encontrara as tropas da Região Militar do Norte ao assumir o seu comando, Pires Veloso não hesitou:

    «No dia 12 de Setembro de 1974 fui chamado ao Chefe do Estado-Maior do Exército – Carlos Fabião – que me disse:

    – Tem aqui uma guia de marcha, é graduado em Brigadeiro e vai comandar a Região Militar do Norte.

    Foi acrescentando que havia um descontentamento muito grande em relação ao Major Corvacho e que o meu nome era o que reunia maior consenso. Traçou-me um cenário negro da situação e alertou-me para as eventuais dificuldades que poderia experimentar ao pretender entrar no quartel.

    Resolvi, então, utilizar como meio de transporte o helicóptero. Ao chegar ao Porto, sobrevoei com cuidado as instalações da Região Militar, procurando ver se havia alguns sinais de insubordinação.Vi tudo calmo. Dei, então, ordem para rumar a Pedras Rubras, onde aterrei. Mandei vir um automóvel para me levar para o quartel da Região Militar, e, protegido por vários soldados armados de metralhadora, entrei naquelas instalações sem qualquer oposição».

    Em relação ao estado em que encontrara as tropas sob seu comando, Pires Veloso afirmou que as unidades estavam completamente indisciplinadas e apenas os militares do Centro de Operações Especiais, de Lamego davam algumas garantias.

    Com um sentido de humor muito apurado, recordou um episódio vivido com um soldado que se apresentava, contra todos os regulamentos, de farta e comprida cabeleira. Quando lhe perguntou que profissão tinha, respondeu que era barbeiro. De imediato, o General Pires Veloso, apesar de usar sempre o cabelo muito curto, pediu-lhe para, no dia seguinte, lhe ir cortar o cabelo. O soldado assim fez. Confrontado com o exemplo do seu comandante, também ele tomou a decisão de cortar o cabelo conforme as normas regimentais.

    As suas visitas às unidades de Bragança e de Chaves onde os SUV (soldados unidos vencerão) espalhavam indisciplina a rodos começaram a sortir efeito e a pôr as coisas mais conformes com a condição militar.

    Por isso, ao desenharem-se as primeiras movimentações revoltosas previstas para o 25 de Novembro, o nosso general podia dar a garantia ao então Presidente da República, General Costa Gomes, de que se o PCP insistisse em levar por diante o movimento revoltoso que vinha preparando, ele tinha às suas ordens dois mil homens prontos e equipados, dispostos a sair dos quartéis e a baterem-se bravamente pela defesa da liberdade!

    E foi o Presidente da República quem, às duas horas da madrugada, conseguiu convencer Álvaro Cunhal da inutilidade da revolta que preparara.

    Afastada assim a possibilidade de uma guerra civil, que esteve eminente, Pires Veloso pôde, descansadamente assistir à implementação dos grandes objectivos que o 25 de Abril prometera aos Portugueses: Democratizar – Descolonizar – Desenvolver.

    Hoje, já reformado, o Major-General Pires Veloso pode entregar-se, tranquilamente, à sua actividade de fruticultor, naquele abençoado cantinho de Portugal que, segundo a tradição local, teria servido também de berço a outro infatigável lutador da liberdade: Viriato.

    Por: Gabinete de Imprensa do Rotary Club de Ermesinde

     

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