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    Arquivo: Edição de 10-12-2009

    SECÇÃO: Psicologia


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    A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL

    O medo da morte

    Este é um espaço de reflexão e diálogo sobre temas do domínio da Psicologia, que procurarei dinamizar com regularidade, trazendo para aqui os principais problemas do foro psicológico que afectam pessoas de todas as idades.

    Na qualidade de psicóloga estou disponível para os leitores de “A Voz de Ermesinde” me poderem colocar as questões que desejarem ver esclarecidas, através de carta para a redacção deste quinzenário ou para o seguinte “e-mail”: [email protected]

    A morte, aquela que ocorre no final da vida, da qual, de início não temos consciência do seu processo, pois “ninguém volta para contar”, como diz o povo. As religiões e a filosofia sempre procuraram questionar e explicar a origem e o destino do Homem. Por tradição cultural, familiar ou mesmo por investigação pessoal, cada um de nós traz dentro de si “uma morte”, ou seja, a sua própria representação ou interpretação da morte. Sendo assim, atribuímos-lhe qualidades e formas. A morte é para nós perda, ruptura, desintegração, podendo ser também fascínio, sedução, uma grande viagem, entrega, descanso ou alívio. A forma como a vemos, certamente influenciará a nossa forma de ser. Desde todos os tempos, em busca de uma certa imortalidade, o Homem desafia e tenta entender a morte; mas o Homem é um ser mortal, cuja principal característica é a consciência da sua finitude.

    A morte faz parte do desenvolvimento humano, desde a mais tenra idade. Segundo Maria Júlia Kovács, nos primeiros meses de vida a criança vive a ausência da mãe. Esta primeira ausência da mãe é vivida como morte; a criança sente-se só e desamparada. Sente que não é capaz de viver sem a mãe, isso no sentido de afectividade, mesmo que a mãe volte a aparecer, a primeira impressão é a que fica marcada por uma das representações mais fortes de todos os tempos que é a morte como ausência, perda, separação e, consequentemente, vem o desamparo.

    Na adolescência, a palavra-chave é desafiar, com um corpo mais forte e uma mente mais aguçada e em todas as possibilidades de criação não há lugar para a morte, que para ele representa derrota, fracasso a incompetência. Pode o adolescente viver várias mortes concretas como perdas de amigos, colegas, em acidentes, assassinatos, doenças. Ao mesmo tempo que se sente poderoso, também se sente fraco diante da morte, apesar de dificilmente exteriorizar essas fraquezas.

    A fase adulta pode ser considerada um período do desenvolvimento do qual o mundo contemporâneo, no meio de uma sociedade capitalista, não se vê com muita clareza o seu início e o seu término. O espaço da morte na consciência pode estar muito distante.

    Assim, quanto ao desenvolvimento, chegamos à fase da velhice, esta é a fase do desenvolvimento humano que carrega mais estigmas e atributos negativos, muitas vezes vista como fase das perdas, do corpo, das finanças, da produtividade e até da própria família. No entanto, a maneira de vivenciar essas perdas vincula-se ao processo de desenvolvimento e à consciência de cada um. Onde está colocada a ênfase ou o valor desta fase na vida ou na morte? Temos observado muitas pessoas que vivem de forma significativa o final da vida, pois nesse tempo todas as experiências se somam.

    A morte como limite ajuda-nos a crescer, mas a morte vivenciada como limite, também é dor, perda da função, das carnes, do afecto. É também solidão, tristeza, pobreza. Uma das imagens mais fortes da morte é a da velhice, representada por uma velha encarquilhada, magra, ossuda, sem dentes e feia. É uma visão que nos causa repulsa e terror.

     Todos os seres humanos são obrigados a confrontarem-se com este dilema, o medo da morte. A forma como se convive com ele, porém, vai depender em parte da história de vida, das características de sua personalidade, mas também do seu esforço pessoal para enfrentar os desafios que a vida nos proporciona, pois somos responsáveis pela vida e pela nossa morte.

    Por: Joana Dias

     

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