SECÇÃO: Educação

Educação Intercultural

O grande desafio que se coloca aos pais é a procura de melhores respostas para as diferentes situações ao longo do desenvolvimento dos seus filhos.

Este espaço pretende informar e responder a questões generalizadas na área do desenvolvimento da linguagem e da aprendizagem e suas implicações no percurso escolar. Para um maior esclarecimento: [email protected] ou www.elisabetepinto.com

A afluência de pessoas provenientes de contextos socioeconómicos e culturais diversificados para um mesmo espaço, tem vindo, ao longo da história da humanidade, a determinar significativas modificações relativamente à organização das políticas educativas das comunidades receptoras. Complexo facto este, que insinua continuamente à necessidade de (in)formação e investigação de teorias e práticas que encorajam a inovação do perfil de professor e, consequentemente, do seu acto pedagógico.

Tem vindo a ser repensado o papel da sociedade, do estado e das instituições educativas e a acção dos educadores e professores perante esta nova realidade política, económica, social e educativa. A refundação de uma nova ordem mundial, transformadora/emancipadora e não adaptadora, exige novas perspectivas críticas em educação que nos ajudem a encontrar respostas a questões que vão sendo colocadas.

“O multiculturalismo, enquanto conjunto de princípios e práticas dos vários domínios institucionais com vista à ordenação de uma sociedade multicultural, foi inexistente em Portugal até ao princípio da década de 90” (Cardoso, 1996, rev. 9). Por esta altura surge, na Europa, o Modelo Pluralista como referência central nos discursos e relatórios políticos que, na tentativa de melhorar o conceito que vem sendo arrastado, traz como objectivos: promover a integração dos domínios públicos e privados da vida dos grupos étnicos; proporcionar a aquisição dos conhecimentos e das competências necessárias para participar na cultura cívica nacional e para aderirem aos ideais democráticos da igualdade, da justiça e da liberdade; e garantir a manutenção e afirmação, com liberdade plena, das características identificadoras da cultura do indivíduo (idem).

Emergente do modelo pluralista iniciado a partir de um vasto debate mundial em torno das respostas políticas e práticas à questão da escolarização das minorias étnicas, a educação intercultural, tem como base a inclusão de conteúdos étnicos no currículo, valorizando duas dimensões essenciais: o combate ao racismo (ver nota1), que passa pela eliminação de todas as expressões de racismo pessoal e institucional; e a igualdade de oportunidades, pela criação de oportunidades semelhantes de sucesso educativo e social às crianças de diferentes origens sociais, étnicas e religiosas. Tendo como objectivos: promover a compreensão e a tolerância mútuas para mudança de percepções e atitudes através de um programa pluralista de reforma curricular; promover uma imagem positiva das minorias e a sua auto-estima; melhorar as aprendizagens; e, combater as atitudes racistas.

Em Portugal, após o 25 de Abril, com o surgimento em massa da imigração dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e mais tarde com a dos países de Leste, as autoridades políticas viram-se obrigadas a constituírem respostas relativamente à integração escolar de minorias étnicas. A Reforma, iniciada com a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) de 1986, criou debates e expectativas em torno das suas orientações e das mudanças a serem operadas. Contudo, no decorrer do tempo, foi-se instalando um esmorecimento sobre o que era esperado, em virtude de um aumento de dúvidas sobre o que afinal se estava a verificar. A título de exemplo, áreas como a do “desenvolvimento pessoal e social” ou “área-escola” fracassaram no que respeita à multi/interculturalidade, visto não estarem nem serem definidos, pelos docentes, conteúdos relativos às diferentes culturas existentes na turma.

Mais de vinte anos depois, ainda se verificam lacunas a este nível, sendo generalizado o insucesso escolar a que são votados os alunos provenientes de outras culturas.

É imperativo contrariar dados como este, visto que “uma criança com insucesso escolar transporta um peso frustracional que se reflecte na família, no professor e no grupo dos seus companheiros. Este aspecto, para além de ser impregnado de tendências antissociais que se verificam mais tarde, converte-se num sentimento de autodesvalorização e autosubestimação que urge combater” (Fonseca, 1999). A solução passa pela preparação dos professores para a gestão do imprevisível e para o espaço de incerteza, que é hoje em dia a sala de aula, através da promoção de programas de formação que sejam ao mesmo tempo teóricos e práticos e que facilitem a antecipação do confronto com possíveis situações profissionais, o desenvolvimento de competências que contribuam para aumentar a sua probabilidade de sucesso profissional, a aquisição de recursos eficazes para adaptar a educação à diversidade dos alunos e a cooperação entre os professores. Formação esta que se deve estender aos pais e outros elementos da comunidade tendo em conta que o trabalho em equipas heterogéneas é o procedimento mais eficaz para a adaptação às actuais mudanças sociais e aos objectivos da interculturalidade.

No próximo artigo, este tema voltará a ser desenvolvido numa perspectiva mais prática do ponto de vista pedagógico.

Nota1– Neste contexto, entende-se por racismo – valorização exagerada e definitiva, de diferenças, reais ou imaginárias, com vantagem para o acusador e em detrimento da vítima, a fim de justificar os seus privilégios ou agressão (Memmi, 1982, citado por ACIME, 2005).

Por: Elisabete Pinto