Dois pilares estratégicos de sustentabilidade empresarial
Para abordar este tema, gostaria de voltar ao séc. XIX e pegar no antagonismo entre o Capital e o Trabalho que é a expressão da mais-valia marxista.
Era exactamente nestes dois factores de produção que gostaria de analisar o seu impacto no âmbito empresarial.
De facto, esta dicotomia, Capital/Trabalho, é uma constante na tipologia empresarial, já que existem sistemas produtivos de capital intensivos ou mão-de-obra intensiva e para cada um deles se justifica uma análise distinta. A primeira está mais associada a uma produção em série de forte componente industrial e a outra com uma maior componente artesanal e associada a trabalhos por encomenda. Também os níveis de produtividade serão distintos, isto se não estivermos a falar de trabalho intelectual ou artístico, caso em que o valor da “produção” depende de muitos outros factores alheios à lógica empresarial.
Mas, voltando ao Capital e ao Trabalho, poderíamos afectar a cada um destes factores uma terminologia mais próxima e falar em Equipamentos e Tecnologia por um lado, e Recursos Humanos por outro.
As empresas são exactamente um conjunto harmónico de pessoas e coisas – Máquinas, Edifícios e Existências – que actuam com vista à produção de um bem ou serviço.
Não me interessa aqui falar da melhor forma de como estes factores se devem organizar quotidianamente, mas antes pensar nas acções que têm implicações a médio e longo prazo, acções essas que muitas vezes são esquecidas pela generalidade dos Empresários, pois privilegiam o lucro imediato em detrimento da sustentabilidade futura das suas empresas.
Assim, será necessário introduzir duas novas ideias relativas a cada um dos factores de produção atrás referidos. Temos, para os Equipamentos e Tecnologia em geral, um custo associado que grande parte das vezes é esquecido: AS AMORTIZAÇÕES. E o que são as Amortizações?
As Amortizações Económicas correspondem a um custo efectivo das empresas e dizem respeito ao consumo dos equipamentos, uma vez que estes também têm uma vida útil, ao fim da qual deixam de ser operacionais e competitivos. Então a amortização é um custo que exprime o desgaste e obsolescência dos Equipamentos. Há que acumular reservas para que, quando os Equipamentos “acabarem” seja possível substituí-los por outros também produtivos, modernos e competitivos. Esta preocupação de criar as condições para a renovação do parque produtivo das empresas é determinante para a sua sobrevivência e competitividade.
Ao nível dos Recursos Humanos coloca-se o mesmo problema, ou seja, é necessário uma actualização contínua das competências das pessoas, para que se adaptem e operem de forma esclarecida face às novas tecnologias e realidades do mercado. Neste caso, há que promover acções de outro tipo, a que muitos empresários também não dão o devido valor: falo de FORMAÇÃO PROFISSIONAL. Esta é determinante para a permanente actualização das competências das pessoas que trabalham nas empresas. Os custos da Formação Profissional assumem duas vertentes: por um lado o preço das acções de formação e por outro a necessidade de dispensarem uma parte da produção pela indisponibilidade dos colaboradores.
De facto, este é um custo que deverá ser tido em consideração de maneira a permitir elevados níveis de produtividade associados às experiências adquiridas e novos saberes.
Tanto as Amortizações como os custos de Formação são valores que determinam no longo prazo a continuidade e o sucesso das empresas e nesse sentido deverão ser incluídos no valor final dos bens produzidos. Se assim acontecer, teremos no futuro empresas com capacidades produtivas, tecnologias modernas e equipas informadas e competentes, ingredientes suficientes para antecipar Empresas de sucesso.
Por: José Quintanilha*
* Director Técnico da JMBQ – Contabilidade e Gestão Unipessoal, Lda.
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