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    Arquivo: Edição de 30-09-2007

    SECÇÃO: Editorial


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    Conversas de Outono

    No mundo rural o fim do Verão e o início do Outono eram épocas ricas em realizações festivas: as desfolhadas, as vindimas, as grandes feiras.

    Em todas as regiões do País se realizavam as feiras das colheitas, as feiras de S. Miguel e tantas outras com outros nomes, mas cuja finalidade é vender, comprar, festejar e agradecer as dádivas do ano agrícola.

    Prepara-se o Inverno comprando o que não se tem e vendendo os excedentes.

    Feiras ricas em variedades de produtos, sementes, frutos secos, utensílios para a lavoura, tanoeiros, um mundo de objectos reluzentes em chapa, desde as candeias de azeite aos canados, colecções de medidas, latas para o leite, utensílios para o queijo.

    As louças de barro, de várias tonalidades conforme a região, a lã fiada de cor natural para fazer as meias de Inverno e as respectivas agulhas de metal – curvas, amarradas em grupo de quatro –, e meias feitas com quatro agulhas; nalgumas feiras apareciam camisolas, especialmente à beira-mar.

    Calçado – socos, chancas e botas de carneira.

    Arreios para os cavalos e para as mulas, jugos, correias e cordas.

    Há uns anos atrás, as conversas nas aldeias, eram sobre o tempo, o amanho da terra, a saúde da família e amigos e, no fim do Verão, sobre as colheitas, qualidade dos produtos, a sua quantidade e os preços de venda.

    As feiras eram pretexto para usar roupa nova, arranjar um namorado, conhecer pessoas, comprar um adorno, uma jóia em ouro:

    – Dinheirinho da feira!

    Embora hoje as conversas sejam outras – sobre as visitas dos filhos nas férias, a casa nova da prima que vive em França, do tio que este ano não veio, dos vizinhos que desapareceram, da senhora que já não vai à feira porque não tem companhia –, as feiras das colheitas continuam a realizar-se, transformaram-se, mas continuam a ter o seu papel de lazer, informação e venda.

    Muitas terras têm recriado factos históricos e vivências do passado, numa perspectiva cultural que envolve as populações e transmite saberes aos mais novos.

    Na vila, na cidade regressa-se de férias.

    – Então onde foste? Estás queimadinho!

    As conversas são todas iguais quando o lazer também passou a ser empacotado e consumido pelo invólucro, pelo estatuto. Acontecem coisas muito estranhas, os países, as paisagens, a cultura de massas transmitida segundo regras standard tornou as conversas monótonas, pouco verdadeiras, cheias de frases feitas e repetidas.

    Como é possível que todos vejam da mesma forma quando cada um de nós vê pelos seus “óculos”?

    Depois vem tudo muito cansado das férias, e é quase pecado mortal não ter ido a qualquer lado!...

    Por: Fernanda Lage

     

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