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    Arquivo: Edição de 15-05-2007

    SECÇÃO: Editorial


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    Nos braços do Leça

    Nascida nas margens do Leça, Ermesinde, a exemplo de outras cidades, virou as costas ao seu rio, fez dele um esgoto da urbanidade com que julgou conquistar prestígio, categoria de "cidade". Hoje sofre as consequências, e, como diz o povo, "casa roubada trancas à porta".

    Quando o rio era rio, uma cheia era sempre bem vinda.

    Ainda vejo o meu pai, do ponto mais alto da nossa casa, a olhar feliz para as agras, todas cobertas de água, e a dizer: - Um bom ano precisa de três cheias antes do Natal!

    Hoje uma cheia é sinal de desgraça, quase sempre junto ao rio vivem os mais pobres, onde predominam habitações clandestinas, de construção duvidosa, e alguma indústria, que na sua maioria, lança detritos no rio de qualquer forma.

    As suas águas estão profundamente contaminadas, bem como os poços e as terras por elas banhadas.

    Ao longo das suas margens, pelos diversos concelhos que atravessa, desapareceram os seus afluentes, as suas levadas, represas e vegetação, que ajudavam a regular as correntes e que sazonalmente eram arranjadas e tratadas pelos agricultores que se serviam das suas águas.

    Hoje o rio Leça perdeu o seu encanto, já não se ouvem os rodízios dos moinhos nem o bater da água nos açudes, as pontes de pedra estão esquecidas, hoje viajamos a grande velocidade e não vemos nada.

    Foto ARQUIVO URSULA ZANGGER
    Foto ARQUIVO URSULA ZANGGER
    Nos últimos anos muito se tem falado do Leça, da sua poluição, de projectos e estudos, parece que agora tudo vai mudar, esperemos que sim …

    Mas perdeu-se muito, nem tudo nesta vida se pode recuperar. Foi tempo em que se acreditou que a tecnologia tudo resolvia, até era capaz de inventar a felicidade!

    Hoje não se pensa assim, todos nós sabemos que os recursos não são infinitos e que a água é um bem fundamental para a humanidade e que pode vir a ser escassa.

    Podemos arranjar as margens do Leça, despoluir as suas águas, mas o Leça jamais será aquele rio bucólico ladeado por campos cultivados onde ainda se pescavam trutas.

    Ermesinde continuará o seu crescimento urbano até se fundir com a cidade do Porto

    Resta-nos criar alguma individualidade, económica e cultural, que nos demarque e dê sentido a esta terra que nasceu nos braços do Leça, esta terra de bom chão de cultivo que ajudou a alimentar a cidade do Porto, com os seus produtos hortícolas e a sua fruticultura.

    Do Porto recebemos e continuamos a receber os seus detritos, primeiro a água choca carregada em carros de bois para adubar as terras, mais tarde o lixo.

    Ermesinde acolheu um grande número de pessoas, vindas normalmente do interior, que aqui se fixaram nos seus braços, contribuindo para o seu crescimento. Hoje os ermesindenses têm as mais variadas origens e poucas são as famílias com mais de quatro gerações aqui criadas. Não admira portanto que, em geral, o rio Leça lhes diga muito pouco, mas é pena, o Leça é uma linha natural de divisão administrativa e sobretudo cultural. Revitalizar o seu caudal, tratar das suas margens, purificar as suas águas é de grande importância para a nossa cidade, no entanto vejo com alguma apreensão que as diferentes autarquias atravessadas pelo Leça não consigam um trabalho de conjunto ao longo do seu caudal, um rio não é de uma Câmara ou apenas de algumas, o que está em causa é um bem de todos, e todos somos responsáveis pela sua conservação, não sei como é possível tratar o rio apenas num pequeno troço se o resto ficar tudo na mesma…

    Por: Fernanda Lage

     

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