Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 30-01-2007

    SECÇÃO: Editorial


    foto

    O duplo castigo

    Pintura PAULA REGO
    Pintura PAULA REGO
    Porque punir duas vezes a mulher que faz um aborto clandestino?

    Haverá maior sofrimento, físico e psicológico, que um acto que normalmente é realizado porque não há condições efectivas de criar uma criança com o mínimo de dignidade?

    Sim, porque quem o pode fazer em segurança não arrisca nem a vida nem é chamada de criminosa.

    É esta hipocrisia de quem tem dinheiro e conhecimentos sobre os métodos contraceptivos, para quem a vida é fácil e por vezes dupla, que é capaz de acusar uma mulher, quantas vezes sem capacidade económica, mental, de afecto ou qualquer espécie de formação e sensibilidade para criar uma criança que me revolta.

    Mas uma coisa é certa: quem sou eu para julgar os outros?

    Cada caso é um caso e o que importa é compreender o que nos coloca o próximo referendo: SIM OU NÃO À DESPENALIZAÇÃO DA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ DENTRO DAS DEZ SEMANAS?

    Li hoje com muita atenção o artigo de Frei Bento Domingues publicado no “Público”, com o qual me identifico plenamente.

    E apetece-me dizer como ele: «(...) Eu, incompetente me confesso». Na verdade sei que, por formação, temperamento, forma de estar no mundo, à partida não tinha força ou capacidade moral para o fazer mesmo numa situação limite, mas nunca se sabe onde está essa barreira, esse limite…

    De qualquer forma, quem sou eu para julgar?

    Uma coisa é certa, sou capaz de entender o sofrimento dessas mães sem meios económicos, sem informação médica que as acompanhem, que arriscam a vida ou a sua saúde porque têm consciência da sua incapacidade para criar uma criança com dignidade.

    E volto ao artigo de Frei Bento Domingues, onde se pode ler: «(…) O "sim" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez dentro das dez semanas é contra o sofrimento das mulheres, redobrado com a criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura da morte, da cultura do aborto».

    «(...) É saudável, é normal que a lei de um Estado laico não tenha que estabelecer o que é bem e o que é mau sobre o ponto de vista religioso».

    Nesta perspectiva, eu penso que o acto de votar no dia 11 de Fevereiro é algo de muito pessoal, que não se pode confundir com políticas de Estado ou de partidos, mas da consciência de cada um.

    O que se vai votar é se neste país as mulheres podem optar por um aborto até às dez semanas, com acompanhamento médico que as ajude a fazê-lo de uma forma esclarecida, mais consciente, sem medos nem riscos para a sua saúde, ou se, pelo contrário, achamos que a lei que existe é boa e não é necessário mudar nada …

    Por: Fernanda Lage

     

    Outras Notícias

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].