Obras do acaso
Arrumei a minha agenda, mudei de calendário, prometi a mim mesma corrigir e dedicar mais tempo a este jornal, mas eu tenho muita dificuldade em lidar com algumas coisas e são exactamente as agendas, alguns calendários e um mundo de papéis para os quais não volto a olhar, a não ser por mero acaso, “talvez obras do acaso?”.
E esse acaso levou-me a encontrar um calendário, de 2004, editado pela Assírio & Alvim, que define um calendário como sendo “A bondade de juntar os dias perdidos àqueles que se avizinham”.
E nesta primeira edição de 2007 em que não sou nada modesta nos meus desejos para “A Voz de Ermesinde”, eu sentia--me um pouco só, talvez impotente para concretizar toda esta vontade de partilha e ajuda quando, mais uma vez, “Obras do Acaso”, o poema que esse calendário dedicava ao mês de Janeiro, me deu a solução e a humildade desta fragilidade humana, talvez uma espécie de oração, para alguns…
– Implorando
o sopro – ( Zunis)
Implorando o sopro do divino,
o sopro que dá vida,
o sopro de muita idade,
o sopro das águas,
o sopro das sementes,
o sopro da fecundidade,
o sopro da abundância,
o sopro do poder,
o sopro da força,
o sopro de todas as espécies de sopro
pedindo o seu sopro,
inspirando o seu sopro no calor do meu corpo,
incorporo o seu sopro
para que vivas sempre luminosamente.
Poemas Amerindios (poemas mudados para português por Herberto Hélder).
Sinto uma grande necessidade desse sopro, de alguma frescura política e social que nos dê ânimo, neste mundo cada vez mais desigual, em que os que pregam a democracia cometem os mesmos erros dos ditadores.
Sempre tive esperança que outros ventos soprassem, que o mundo fosse humano, que a Paz, que todos desejamos no Natal e no início do ano, deixasse de ser uma utopia.
Nesta mudança de calendário tivemos também uma mudança da direcção do Centro Social de Ermesinde e eu não podia deixar de agradecer a todos os membros com quem trabalhei, e de dar as boas vindas aos que se disponibilizaram para continuar esta tarefa sem limites, que aos poucos e poucos vai alargando, aprendendo e corrigindo o seu papel na sociedade e em especial nesta cidade.
Não posso deixar de louvar a criação de mais uma associação – “Ermesinde Cidade Aberta” – pelo projecto que se propõe realizar e pelo que ele representa de inovador e demonstrativo dum Centro Social atento ao nosso tempo, numa leitura actual das novas necessidades desta cidade em crescimento.
Que todos os sopros divinos nos ajudem!…
Por:
Fernanda Lage
|