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    Arquivo: Edição de 10-12-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    Dezembro

    De todos os meses do ano é aquele a que associo as maiores contradições.

    A natureza determinou que Dezembro fosse frio no nosso país e toda a nossa tradição natalícia está associada ao fogo para aquecer as almas dos que partiram e os corpos dos que por cá vagueiam…

    As ruas enfeitam-se e ouvem-se cantos de louvor ao menino e é neste mês, para meu espanto, que são, em média, mais crianças abandonadas.

    A palavra Paz anda de boca em boca, a todos desejamos Paz e Amor, a todos, uns e outros, independentemente de raça ou cor. No entanto continua a violar-se os Direitos Humanos, a fome aumenta, desfazem-se países e comunidades, separaram-se famílias, não há trabalho para todos, não somos realmente “livres e iguais em dignidade e em direitos”.

    Este jogo hipócrita de sentimentos, com que somos confrontados, em especial neste mês de Dezembro, para uma vez por ano ficarmos de bem com a nossa consciência, leva-me sempre a pensar até que ponto a sociedade anda tão distraída, fechada na sua concha, sem tempo nem olhos para olhar à sua volta.

    Com base em foto ARQUIVO
    Com base em foto ARQUIVO
    Não há tempo para reflectir, para conversar, para trocar ideias, todos corremos, corremos, não sei bem para quê nem para onde.

    Mas Dezembro é um mês de grande beleza, pelo seu significado, pelo frio que nos aproxima nas nossas casas, às lareiras, nas fogueiras que ainda se realizam por este país.

    Lembrei-me das fogueiras porque, nas minhas caminhadas pelas serras, lá andavam os rapazes solteiros com as ajudas das máquinas das respectivas Câmaras a transportarem a lenha para a fogueira do Natal, troncos inteiros de castanheiros cuja idade não conhecemos e, como qualquer ser vivo, têm o seu fim.

    E foi olhando para a felicidade daqueles jovens que aplicavam toda a sua força no transporte da lenha, subindo ravinas, entre soutos e castiçais, que eu dei comigo a pensar nos Direitos Humanos, nas guerras onde morrem jovens iguais a estes sem saberem porquê, ou pior ainda, ao serviço de países e interesses que jogam com a vida de todos nós.

    E mais uma vez pensei em todos os injustiçados, presos, abandonados à espera do alívio da morte, crianças a morrer de fome, e os nossos contentores do lixo cheios de alimentos que uns estragam e outros procuram junto dos supermercados.

    Comemoramos, hoje, dia 10, os Direitos Humanos, lembramos os 25 da UNICEF, e ainda bem que o fizemos, mas é pouco, temos que ser mais fortes, estar atentos, ter opinião sobre o mundo que nos envolve, saber contestar quando é preciso, não nos contentarmos por desejar Paz e Alegria, quando nas nossas pequenas coisas semeámos ódio, intolerância e não somos capazes de dizer não quando é preciso.

    Por: Fernanda Lage

     

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