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    Arquivo: Edição de 30-06-2006

    SECÇÃO: Educação


    A PÁGINA DOS JOVENS

    Olhos verdes encontram olhos castanhos

    Olhos verdes encontram olhos castanhos, num abraço do tamanho da lua, e olham-se sem desvios, sem o medo de falar de si. O sol espreita os olhares e ofusca-os, mas não os consegue fechar e existem risos de crianças que correm de mão dada pelo mundo.

    Os olhos verdes choram um poema sem palavras, feito só de sangue, e os castanhos enxugam as lágrimas com expressões de embalar. O mar rebenta lá ao fundo, e os olhos não se desviam, porque em cada olhar há um mar mais denso e profundo, que encerra vidas que nem sequer se julga existir.

    Os olhos castanhos desfilam lembranças que querem partilhar, por os levar ao pico onde as emoções rolam, arrastando atrás de si milhões de imensidades que não se podem dizer de outra forma. Imensidades que nos fazem chorar entre todas as outras coisas que se vêem e se finge não sentir. Abraça-me de encontro a ti e dá-me do teu calor meio humano e faz-me sorrir tão dentro, que nunca ninguém irá ouvir as minhas gargalhadas. Encerra-me na nossa solidão partilhada, dá-me de ti em pedaços indefiníveis de memórias que não são de mais ninguém. Deita-me sobre o teu leito de sensações e vai-me descrevendo cada segundo de respiração do chão por baixo de nós. E vai-me mostrando o teu mundo, onde a lua cai por vezes na terra e deixa crateras que nunca mais vão fechar. Cicatrizes que não são cicatrizes, porque por baixo da pele sarada, ardem todos os defeitos e todos os erros.

    Fecha os braços meus com os braços teus e olha-me lá de cima, onde eu sei que estás com os teus braços cruzados e o queixo pousado sobre as costas das mãos. Sorri para mim, como eu nunca vou sorrir para ti. Ninguém sorri igual. Ninguém sorri com a dor deitada nos pés. Ninguém me mostra os olhos verdes sem dizer que olha os meus castanhos. Não se usam as palavras que ocupam espaço no ar e ocupam espaço debaixo da língua e pesam na cabeça de tanto pensar. Os olhos verdes, encontram os olhos castanhos, como podiam encontrar os azuis ou os pretos, e deixam fluir todas as coisas que não se conseguem guardar dentro, na solidão que não se partilha e não chora de si. Entre pena e vontade de repetir.

    Os que se vão perdendo pelo caminho, fazem a falta das coisinhas pequeninas com coisas grandes dentro delas. Fazem uma saudade de agonia que não se mata ao recordar e que não se consegue substituir. Morreram tantos anos em cada um de nós, dentro dos olhos verdes e dos castanhos, perderam-se tantos silêncios que podiam ter falado muito mais que palavras. Ficaram pelo caminho tantos poemas de sangue e de abraços. Houve tanto que nós não soubemos, que nunca vamos saber a dose certa para mostrar que se sabe sentir.

    Por: Daniela Ramalho

     

     

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