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    Arquivo: Edição de 15-06-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    A Santa Rita da minha infância

    Manhã cedo chegavam bandos de peregrinos, de Matosinhos, das terras da Maia, das de Gondomar e até do Porto.

    De Matosinhos vinham pescadores e seus familiares, descalços, chegavam muito cedo e vinham quase sempre cumprir promessas.

    Da Maia e Gondomar havia de tudo, os que começavam a chegar de manhã cedo, porque vinham cumprir promessas e mais tarde lavadeiras de Nogueira, galinheiras da Reguenga. Estas, habituadas a grandes caminhadas, tinham um ar fresco, alegre divertido, cantavam e caminhavam com ritmo certo sem nenhuma dificuldade.

    Mais tarde chegavam as lavradeiras, vestidas a preceito, as raparigas de sapatos novos, já caminhavam com alguma dificuldade.

    Eu adorava estar dependurada no mirante a ver desfilar todas estas personagens, velhos, novos e crianças a caminho da festa. De vez em quando passava um amigo da família, especialmente da Maia, e lá ficavam a conversar, sobre a família, as culturas e o tempo.

    Mas sempre conversas curtas, porque o objectivo era a festa.

    As festas e as feiras eram as grandes oportunidades de encontro, de divertimento, pretexto para exibir uma fatiota nova, para os jovens se conhecerem, para as famílias combinarem casamentos, e para arranjar namorados.

    A Rua José Joaquim Ribeiro Teles enchia-se de pobres que exibiam as suas chagas e maleitas.

    E muitas, muitas cerejas expostas em cestos enfeitados com rocas (ramos de cerejas, cheiinhos de frutos).

    De onde a onde as mulheres dos tremoços, as bancas dos homens dos pirolitos...

    Na estrada vendiam-se refrescos de limão e aguardente, em cântaros de cortiça revestidos a heras.

    À noite toda a rapaziada nova ia andar nos carrinhos eléctricos, nas cestas, nos carrosséis e jogar matraquilhos.

    Em casa dos meus tios era dia de almoço de festa e, da parte da tarde, lá estávamos todos em exposição, a ver as pessoas que passavam para a festa, encontravam-se amigos, comentavam-se vestimentas, era uma verdadeira passagem de modelos…

    Mas o fim da festa era muito mais divertido, as pessoas regressavam a casa com ar cansado, muitas de sapatos nas mãos e muitos embriagados. Nós, miúdos, contávamos os bêbados e a sua categoria… e ríamos muito com os disparates que eles faziam, era um verdadeiro concurso.

    As famílias da terra tinham o seu dia especial da festa à 2ª feira, organizavam piqueniques à sombra das carvalheiras e algumas já tinham os seus lugares certos.

    A Santa Rita lá está e continua a ser venerada por muito devotos, mas a rua já não se enche de gente festiva, de miúdos que se encantavam com uma roca de cerejas…

    Confesso que já não vou à Santa Rita há uma série de anos, nem dou pelo dia, não sei se é bom ou mau sinal!...

    É o progresso! Com todas as consequências que ele nos trouxe de uma mudança de vida radical, com muitas coisas positivas... e outras…

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ

    Por: Fernanda Lage

     

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