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    Arquivo: Edição de 15-04-2006

    SECÇÃO: Arte Nona


    Recordando a “Canção do Bandido”

    Porque diabo escolhemos recordar hoje aqui a “Canção do Bandido”, obra aparecida já há cinco anos nas Edições Polvo? Ora bem, por duas muito boas razões: a primeira, e a mais importante, é o facto de um dos seus autores – Rui Ricardo – aparecer agora associado à organização do Festival CopyRiot – Gente sem Patente (ver Tecnologias - "Conferência sobre LSTP no Espaço Musas"), um evento que procura fazer reflectir e alterar o estado das coisas nos meios criativos, pondo em causa o sistema actualmente dominante de cobrança de direitos de autor, pelo qual acabam por lucrar grandes lóbis e companhias, em detrimento dos interesses dos próprios criadores e da divulgação das suas obras. Foi, entre outras, por esta razão que surgiu a licença Creative Commons, um derivado da GNU GPL que “A Voz de Ermesinde” tem vindo a publicar. Também estas grandes companhias e interesses nos embalam com outro tipo de “canção do bandido”. A outra boa razão é menos feliz, e refere-se ao desaparecimento do “Blitz”, jornal que contava desde há anos com a colaboração de Rui Ricardo, o criador do Paiva.

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    A “Canção do Bandido” é uma obra editada em 2001 pelas Edições Polvo, com argumento de Paulo Patrício e desenhos de Rui Ricardo.

    Para os conhecedores dos trabalhos mais recentes do Rui como ilustrador, não é fácil identificar-lhe ali os traços, a não ser nas poucas vinhetas com extensas áreas de fundo negro, que parecem até – terão sido? – desenhadas posteriormente.

    Mas é evidente que uma arte sequencial como a BD tem as suas próprias regras e exigências, não necessariamente idênticas ao cartoon ou à ilustração.

    A obra está, aliás, excelentemente ilustrada, e tem o aliciante suplemantar para nós, situados no Grande Porto, de ali identificarmos várias paisagens urbanas ou suburbanas familiares.

    Se se trata, nesta obra, de uma «releitura europeia dos manga» (texto dos editores na badana), ou antes de uma relativa aproximação aos processos narrativos e ilustrativos da BD alternativa norte-americana, isso deixamos à ponderação dos leitores capazes de encontrar as referências certas. A nós, o traço de Rui Ricardo faz-nos lembrar aqui um pouco Jaime Hernandez, mas mesmo a história – e aqui entra a maior responsabilidade de Paulo Patrício, nos parece mais próxima e ocidental.

    A “Canção do Bandido” é uma obra com um argumento simples, mas muitíssimo bem elaborado. Parte da ideia do arrependimento de um pinga--amor, que um dia resolve ir confessar às suas inúmeras ex--namoradas como as usou, sem verdadeiramente estar interessado em ficar junto de alguma.

    O resultado nem sempre é o esperado. E a confissão acaba por tornar-se algumas vezes, ainda mais ofensiva, porque a personagem – o Alexandre – ao confessar com tal desenvoltura o pouco interesse real na antiga namorada, desencadeia efeitos que ele não pretenderia.

    Muito bom é o diálogo. O texto de Paulo Patrício segue de perto uma oralidade urbana muito viva e verosímel, dando às várias peripécias uma atmosfera realista que faz com que o humor subjacente ao argumento seja sempre comedido e vá aparecendo ao sabor dos acontecimentos.

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    Aqui e ali aparecem personagens de todos os dias, algumas caricaturas de um real bem próximo e recente, como o da antiga pequena libertina que entretanto se tornou fiel devota de uma dessas seitas bíblicas duvidosas, e por via ou das telenovelas ou do culto, já não sabe falar sem aquele tão característico sotaque brasileiro.

    Voltando ao desenho de Rui Ricardo, não pode dizer-se que esta seja uma obra perfeita, com algumas vinhetas deixadas ainda um pouco toscas e vazias, mas aqui revelava-se já no autor, um bom trabalho no tratamento dos planos e um potencial que se adivinhava ter muito por onde se poder expandir e vir a expressar.

    Por: LC

     

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