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    Arquivo: Edição de 15-01-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    Do Natal às eleições

    Embora com muitos constrangimentos, eu continuo a ter uma relação muito forte com a época natalícia, talvez seja esta minha costela rural que me aproxima muito de tudo o que é festa e celebração popular.

    Festejar a quadra natalícia neste país é, em muitos casos, uma mistura entre a celebração do nascimento do Menino Deus e, por outro lado, o regresso às festas pagãs da Antiguidade.

    Mas se a tudo isto juntarmos uma boa dose de consumismo e de outras culturas, outras tradições trazidas por outros povos, temos um Natal global.

    Não tenho nada contra o cruzamento de culturas, a própria cultura não é mais do que esse tecer de saberes, de conhecimentos que, tratados por diversos povos, dão origem a produtos diferentes. Quanto ao consumismo, já não penso da mesma forma…

    Mas voltemos ao Natal e aos seus preparativos, ainda me lembro das “Novenas do Menino”, dos tradicionais “tim--teri-nó” dos sinos da igreja.

    Aqui em Ermesinde o toque dos sinos não precedia o Natal, como no Fundão, mas era costume no dia de S. Silvestre tocar--se o sino todo o dia.

    Ora este ano a urbe animou-se em vésperas de Natal com bombos na rua, bandeiras, autocolantes, rosas e cravos, não para anunciar a chegada dos Reis Magos mas para apresentar os candidatos à Presidência da República.

    Não trouxeram presentes, desta vez foram mais comedidos, quanto a promessas já não podemos dizer o mesmo.

    Nos últimos anos, na noite de Natal, não deixo de dar uma volta pelas aldeias da Serra da Estrela onde se fazem enormes fogueiras organizadas pelos mancebos de cada terra. É à volta destas fogueiras que as pessoas se aquecem, bebem um copo e desejam boas festas aos presentes, pois este ano havia uma novidade. Alguém dizia: Mas que pena, já se me acabaram os autocolantes, mas vou aproveitar para dar ali uma palavrinha…

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    Gosto de ver as pessoas na rua nas noites frias de Inverno a cantar os Reis ou as Janeiras, são momentos de felicidade e comunicação afectiva que em muito contribuem para o nosso equilíbrio.

    Quanto aos contactos de rua dos candidatos e seus apoiantes também estes desfiles têm um certo ar festivo, mas é sempre um contacto forçado que cada um dos concorrentes tem que gerir em função da sua personalidade.

    A época natalícia era até há poucos anos um pretexto para andar na rua, para aproveitar esta época de excepção em que se faziam compras à noite e se apreciavam as iluminações no centro do Porto.

    A festa desapareceu, o centro do Porto está morto, já não se fazem compras entre castanhas assadas, tropeçando em brinquedos de corda que comerciantes de ocasião apregoavam nos passeios: “É pró menino e prá menina”…

    Uma das ruas mais animadas na Cidade, na quadra natalícia, era sem dúvida Santa Catarina.

    Quando esta rua foi oferecida aos peões, senti-me europeia, Santa Catarina cheia de gente era uma alegria, que bom passear sem trânsito!

    Hoje, quando regresso um pouco mais tarde a casa e tenho que a percorrer, não nego, faço-o muitas vezes com algum receio.

    Mas este ano Santa Catarina animou-se, encheu-se de gente, bandeiras de muitas cores para receber os candidatos.

    Quanto à magia do Natal, ao que ele tem de encantatório e mistério, não há como os festejos rurais e, no nosso país, tenho especial curiosidade pelos que se realizam em Trás-os-Montes.

    Rituais ricos em cor e atrevimento, que o uso da máscara tanto ajuda.

    As Máscaras têm poderes, ajudam-nos a fazer coisas que não imaginamos ser capazes.

    Máscaras físicas, reais, visíveis, capazes de transformarem um indivíduo num actor.

    Mas há outras máscaras, aparentemente invisíveis que nos seduzem, nos transformam, máscaras que nos iludem, que escondem a realidade, que nos fazem esquecer um passado ainda tão próximo.

    Agora, em vésperas de eleições, descobriram que este país não está nada bem, e toca a bombardearem-nos com os problemas da sustentabilidade económica.

    Eles que transformaram este país no que somos hoje, e querem-nos convencer que não têm nada a ver com isso!…

    Por: Fernanda Lage

     

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