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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-10-2019

    SECÇÃO: Crónicas


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    PASSEIOS DE BICICLETA À DESCOBERTA DO PORTUGAL REAL...

    “Bem se vê que és do norte…”

    Dezanove de agosto de 2019, vou de autocarro em direção a Vila Real de Santo António. Na sua bagageira, para além da minha mochila, vai a bicicleta. Bicicleta com as cores da bandeira nacional.

    A razão de ir para esta cidade, foi que no ano passado ao fazer toda a fronteira terrestre com Espanha, ter terminado ali. Iria acabar o que me faltava para fechar o mapa.

    A costa Portuguesa. As notícias sobre a ocupação turística não eram animadoras. (Em outubro é publicado e passo a transcrever: “As receitas de turismo voltaram a bater um recorde, ao chegarem aos 2.983,07 milhões de euros no passado mês de agosto. No acumulado desde o início do ano até agosto as receitas turísticas somavam 12.618,0 milhões de euros”). Na altura os operadores turísticos queixavam-se da fraca ocupação.

    Chego à cidade por volta das 16h. O motorista na sua simpatia deseja-me um regresso sem sobressaltos. Curiosos, os feirantes observam-me a montar a bicicleta. Rodas postas, selim mais ou menos na altura certa, luvas, capacete e mochila às costas. Estava pronto a iniciar a demanda. Resolvi passar pelo centro da cidade.

    Visitei a praça. Só as esplanadas dos cafés estavam ocupadas. Já por ali andei outrora com a dita apinhada de gente qual noite de São João. Cidade raiana, fundada em 1773 por ordem do Marquês de Pombal, sendo a primeira cidade algarvia a ter iluminação a gás no ano 1886.

    Depois de me refrescar com um sumo, resolvo percorrer a estrada M511, em direção a Monte Gordo. Estrada por entre pinhal, com ciclovia. No limite da vila lá estava o parque de campismo. Era nele que iria pernoitar. Qual não foi o meu espanto, para fazer o check in havia uma fila enorme de gente. A fila de carros e autocaravanas ocupava uma boa parte da via, originando algum congestionamento de trânsito.

    FORTALEZA E PRAIA DE CACELA VELHA - ALGARVE
    FORTALEZA E PRAIA DE CACELA VELHA - ALGARVE
    Passadas duas horas lá tinha o cartão para entrar no dito. O que valeu foi trocar impressões, com quem também por lá queria ficar. Gente dos mais diversos pontos do país. Malta do centro e do sul que me mediram, como se fosse uma ave rara, quando souberam das minhas intenções. Os do Norte lá diziam “Bem se vê que és do norte, é assim mesmo carago, dá-lhe forte”. Uma risada. O parque superlotado. Fazendo-me meio “morcão” montei a tenda, quase em cima de uma outra. Senti as chamas dos outros utentes. Sorri. Paciência. Amanhã saio por volta das 7h.

    Depois de jantar lá dei uma volta pela vila. As ruas animadas com os turistas, mexendo e remexendo nas bancas dos artesãos, para nada levarem. Dia 20 parto, conforme tinha estipulado. Dentro do possível sempre à beira mar. Quando fosse impossível andaria pela 125. Passei pela Praia Verde e Altura, Manta Rota e Cacela Velha.

    Cacela Velha é uma das aldeias mais típicas e genuínas do Algarve, tendo uma belíssima praia, “Praia da Fábrica” considerada uma das 15 melhores praias do mundo. Aldeia com ocupação humana desde os tempos dos navegadores Gregos e Fenícios. O terramoto de 1755 arruinou a Igreja Matriz, e os baluartes da fortaleza caíram arrastando até à praia os seus canhões. Por aqui encontrei um francês, que queria algumas informações do que poderia ver no Algarve. Residente nos arredores de Paris, os seus pais tiveram como caseiros um casal português, que lhes contava o quanto de belo era o nosso País e por força de se ter reformado andava-o a percorrer. Na despedida lá me gritou, “Para o ano vais ao Tour. Vais gostar, é fantástico”.

    Segui para Cabanas de Tavira e desta para Tavira. Admirei a belíssima ponte romana e suas ruas estreitas com canteiros ou vasos às janelas com flores de todas as cores. Desta para a Fuzeta foi um instante. Parei nesta vila piscatória. Ao desmontar da bicicleta, alguém me alertou. “Tenha cuidado amigo, que este aqui foi ciclista e vai-a roubar”. Sorri. Lá lhes disse que ela teria que me levar para o Porto, se quisesse podia dar uma volta. Riram. Convidaram-me para a mesa. Estavam a almoçar uma bela sardinhada. Não me fiz rogado. O ex-ciclista do Tavira lá me disse. “Vais em sentido contrário. Devias vir a descer. A partir de Sagres vais apanhar o vento Norte de frente. Vais passar mal. “Assim foi. Estávamos em animada cavaqueira, quando apareceu uma senhora de bastante idade que com uma voz ternurenta diz: “Áh meus malandros. Comeram as sardinhas todas e não deixaram uma para a Avó”. O neto pergunta: “Não tens mais sardinhas?” - “Claro que não. Não me mandaste assar todas? “O neto levanta-se e desaparece. Os outros entram em galhofa e ela meigamente alinha na brincadeira. Eu meio preocupado ofereço-me para remediar o mal, mas sou logo impedido. “Não te preocupes que o neto já está a resolver. “Lá apareceu com uma travessa cheia de sardinhas e com um sorriso nos lábios lá foi dizendo. “Pronto avó, já tens as tuas sardinhas os turistas aguentam mais vinte minutos”. Tinha ido a um restaurante de um amigo para o desenrascar daquele equívoco. A Avó, sim só as avós, convida-nos a fazer-lhe companhia porque eram muitas sardinhas.

    Cheguei a Olhão ao final do dia. No parque de campismo não havia fila. Logo ali decidi ficar um dia. A descansar? Não, mas também.

    Aproveitava para ir dar um mergulho à minha praia favorita.

    Por: Manuel Fernandes

     

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