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    Arquivo: Edição de 31-07-2019

    SECÇÃO: História


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    MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (8)

    Tradições agrárias: O MILHO – OS TRABALHOS COM A SUA CULTURA

    Muitas eram as actividades, ligadas, directa ou indirectamente, à agricultura. Depois de nos termos referido ao estrume que se deitava à terra para a tornar mais fértil, à sacha do milho e à festa da merenda, começando também a falar da “desfolhada” que retomamos hoje, debruçar-nos-emos ainda sobre a “barraca de palha”, o Pão Nosso e a Maquia.

    A DESFOLHADA (continuação)

    A desfolhada, como festa e convívio realizava-se aos fins-de-semana, geralmente ao sábado, à noite e a ela se associavam os jovens da casa e outros convidados. Aqui sim havia alegria, com piadas e ditos brejeiros à mistura e ao final da noite era distribuído uma espécie de merenda de que fazia parte o pão e vinho, à fartura. A competição para ver quem primeiro enchia a giga de espigas era quebrada, amiudadamente, com o anúncio de um feliz contemplado a quem tinha aparecido uma espiga de milho-rei. Todos paravam e não raramente o felizardo tinha direito a um beijo, por parte de uma das participantes mais novas, por si escolhida. O corar da moçoila e mesmo a sua atrapalhação eram motivo quantas vezes de alarido e gozo e havia mesmo quem para tornar o acto ainda mais solene e complicado para os intervenientes, antevisse aí um romance amoroso. Hoje, como se compreende, o significado destes actos seria diferente...

    As espigas eram descarregadas à medida que as gigas iam enchendo, na casa da eira, ou num lugar reservado do «coberto» para irem secando, juntamente com algum folhelho, que a dona da casa tinha retirado para o seu uso na casa, mais concretamente destinado às enxergas. Mais tarde chegaria a vez de arrancar o milho às espigas. Primitivamente o método utilizado era a malha, onde os homens, servindo-se dos característicos manguais, procediam a esta extenuante tarefa. A debulhadora mecânica, que separava automaticamente o cereal para um lado e o casulo para outro, veio economizar tempo e esforço.

    A palha seria depois posta em molhos, sensivelmente com a largura de duas mãos, amarrada na «cabeça», com palha de centeio ou azevém, sendo, mais tarde, estes guardados, no interior da casa, geralmente na «barra»(2), ou fora, na cortinha(3).

    A «BARRACA DE PALHA»

    UMA FESTA EM DIA DE DESFOLHADA
    UMA FESTA EM DIA DE DESFOLHADA
    Era na cortinha, contudo, que se guardava a maior parte dos molhos de palha, pois era neste espaço, não longe da casa, que iria nascer a «barraca».

    A «barraca», além de ser uma forma útil de guardar a palha, tinha ainda a vantagem de servir de abrigo, pois a forma como os molhos eram colocados nesta estrutura, tipo grande cabana, com términus em linha longitudinal, funcionavam de revestimento lateral e de cobertura. Era uma construção feita em varas de pinheiro ou eucalipto, de uns seis a sete metros, às vezes mais, ao alto e cruzadas na ponta. Por sua vez, estes paus eram ligados uns aos outros por ripas de madeira, pregadas em paralelo, com um intervalo de cerca de um metro, fechada de um lado e totalmente aberta de outro.

    Os molhos de palha de milho eram comprimidos uns contra os outros nestes espaços entre as ripas, sendo-lhe dada uma inclinação de cerca de 45 graus, para que a água escorresse por este conjunto de caules. O seu interior era aproveitado para guardar alfaias agrícolas, palhas e, muitas vezes, era aí que decorria a própria desfolhada.

    As medas, também chamadas «choupanas», eram menos vulgares, pois usavam-se quando havia pouca palha, ou esta tinha sobrado da construção da barraca. Consistiam apenas num pau enterrado, no chão, à volta do qual se iam amontoando molhos de milho, de forma inclinada, como se de um telhado se tratasse. A palha disposta desta forma conservava-se durante muito tempo, aguentando bem o Inverno e, às vezes, aí permanecia quase um ano, tudo dependendo da necessidade de alimentação dos animais. A armação, em madeira, conservava-se no local durante anos, sendo substituídas apenas as partes que iam apodrecendo.

    As crianças da casa e os seus amigos aproveitavam, muitas vezes, as características construtivas e a deficiente falta de luz da «barraca», para aí fazerem jogos, nomeadamente o «jogo das escondidas».

    O PÃO-NOSSO

    Todas as casas agrícolas, bem como outras de gente mais humilde, que estivessem ligados à agricultura ou não, como os operários fabris com uma grande prole, tinham o seu forno.

    O período do pós-guerra foi difícil, não só para os ermesindenses, como aliás para toda a população portuguesa. Tempos de fome e de miséria, onde o último recurso era a emigração. As padarias praticamente não existiam e dedicavam-se quase exclusivamente à venda de pão de trigo, com especial atenção para as conhecidas sêmeas que, verdade seja dita, pela sua grandeza, satisfaziam o estômago mais esfomeado. Em termos económicos, portanto, quer para os lavradores, quer para as outras famílias, sobretudo para as mais numerosas, compensava fazer o pão, em casa.

    (...)

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    1-Este artigo (texto e foto) baseia-se na publicação do autor, “Ermesinde: Memórias da Nossa Gente”.

    2-Barra -palheiro existente, nas casas agrícolas, sobre as cortes do gado.

    3-Cortinha - terreno lavradio, adjacente à casa de lavoura, geralmente fechado e onde existiam as hortas.

    Por: Jacinto Soares

     

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