Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 29-02-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 31-05-2019

    SECÇÃO: História


    foto
    ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (4)

    Greves e incêndios marcaram o maio de 1919 português

    Em 1919, Portugal, um dos países beligerantes da Primeira Grande Guerra, para além dos constrangimentos económicos sofria grandes convulsões políticas e sociais. No mês de maio, desse ano, houve uma onda de greves e de incêndios que desestabilizou claramente a vida política nacional. Houve quem associasse esse estado caótico ao bolchevismo e, concretamente, à III Internacional, que ocorrera dois meses antes em Moscovo.

    Nesta passagem em revista do que foi o mês de maio de 1919, através da consulta da imprensa desse tempo, comecemos pelas greves e legislação laboral aprovada. No dia 2 de maio, registou-se uma greve dos funcionários da Companhia das Águas. O problema da falta de água foi agravado pela abertura de torneiras, ato organizado pelos grevistas, para mais rapidamente esvaziarem os depósitos. Esta greve só ficou solucionada passados dias, tendo sido presos alguns dos seus cabecilhas.

    No mesmo dia desta greve, também o pessoal da Carris (transportes públicos de Lisboa) fez uma greve que manteve até ao dia 8 de maio. Esta greve levou ao envolvimento intermediador do Presidente da República. O governo, para minorar os seus efeitos, colocou alunos do Instituto Superior Técnico a conduzir os elétricos e recorreu a pessoal da Marinha de Guerra para garantir a segurança, vigiando de perto os escritórios e as paragens destes meios de transporte.

    Neste período inicial de maio de 1919, outras greves ocorreram na capital portuguesa: dia 4 de maio começou uma greve dos operários metalúrgicos de Lisboa e dos trabalhadores da Companhia de Gás; dia 5 de maio novos setores paralisam o trabalho, nomeadamenteos alfaiates, os cesteiros e o pessoal da Companhia Nacional de Moagem. Nesse mesmo dia 5 de maio, o ministro do trabalho, o socialista Augusto Dias da Silva, demite-se do Executivo, segundo consta, por estar «em desacordo com a política repressiva do governo para com os movimentos grevistas».

    Em resultado desta onde grevista, no dia 7 de maio de 1919, é publicado o decreto 5516, que estabelece o dia de trabalho de 8 horas e a semana de 48 horas.

    Nesta maré de protestos, também os trabalhadores rurais se fizeram ouvir, quando a 18 de maio, reunidos em Évora, se manifestaram contra o facto de se verem excluídos do decreto sobre o dia laboral de 8 horas.

    Refira-se que estas greves eram alimentadas pela imprensa sindicalista e anarcossindicalista que tinha grande dinamismo em Portugal de há cem anos. Em setembro de 1919, fundar-se-ia em Coimbra a Confederação Geral do Trabalho (concretizando a decisão do I Congresso Operário Nacional, tomada 5 anos antes, em Tomar), que teve em Manuel Joaquim de Sousa o seu primeiro Secretário-Geral. O primeiro órgão oficial da CGT foi o jornal significativamente chamado “A Batalha”.

    DIA 2 DE MAIO DE 1919 - UM ASPETO DO INCÊNDIO NAS REPARTIÇÕES DO TERREIRO DO PAÇO, LADO ORIENTAL, NO MOMENTO EM QUE O FOGO LAVRAVA COM ENORME INTENSIDADE (IN "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA", EDIÇÃO DE 12 DE MAIO DE 1919)
    DIA 2 DE MAIO DE 1919 - UM ASPETO DO INCÊNDIO NAS REPARTIÇÕES DO TERREIRO DO PAÇO, LADO ORIENTAL, NO MOMENTO EM QUE O FOGO LAVRAVA COM ENORME INTENSIDADE (IN "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA", EDIÇÃO DE 12 DE MAIO DE 1919)
    Há cem anos, como hoje, o governo achava a luta laboral exagerada e afirmava não ter meios financeiros para fazer face às reivindicações dos trabalhadores.

    O jornal “A Capital”, de 3 de maio de 1919, sob o título “Momento grave”, dá conta da situação complicada que se vivia:

    «Não nos parece que possamos ser acoimados de exagero, acentuando a extrema gravidade do momento. Estamos na realidade, ameaçados d’uma paralysação geral do trabalho e, o que é peor ainda, da inutilização de recursos absolutamente indispensaveis da vida e á segurança social. Esta situação torna-se insustentavel, e nós pensamos, como pensa o governo, e como pensa decerto toda a gente que ainda não perdeu o sentimento das proporções e até o instincto da conservação, que o proprio operariado será o primeiro a reconhecer que ella é realmente insustentavel.

    As gréves sucedem-se, apresentando reclamações das quaes, muitas d’ellas, são inteiramente impossiveis de satisfazer. Pode-se pedir até a um certo limite. Além d’elle, toda a elasticidade acaba por desaparecer. É o que se está dando. Por muito boa vontade que o governo tenha de atender determinadas pretensões, ellas excedem todas as suas disponibilidades. (…)».

    INCÊNDIO NO TERREIRO DO PAÇO E NA CADEIA DO LIMOEIRO

    Ao mesmo tempo que se iniciava a onda grevista que vimos acima, ocorreram também dois grandes incêndios: um no dia 2 de maio, que danificou uma parte da Ala Oriental do Terreiro do Paço e que segundo escreveu Damião Peres, foi agravado por várias sabotagens ao seu combate estando tal facto ligado a «manifestos clandestinos distribuídos [que]incitavam ao incêndio de edifícios públicos e à revolução social.»

    Da “Ilustração Portuguesa” de 12 de maio de 1919, transcrevemos a notícia sobre este trágico acontecimento:

    (...)

    Leia este artigo na íntegra na edição impressa.

    Nota: Agora pode tornar-se assinante da edição digital por 6 euros por ano. Após fazer o pagamento (de acordo com as mesmas modalidades existentes na assinatura do jornal impresso) deverá enviar-nos o nome, o NIF e o seu endereço eletrónico para lhe serem enviadas, por e-mail, as 12 edições em PDF.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].