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    Arquivo: Edição de 15-12-2017

    SECÇÃO: Património


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    Ainda a palavra "Ermesinde" (11)

    Estamos quase a chegar ao primeiro aniversário desde que comecei a escrever estas crónicas, que espero estejam a agradar aos nossos leitores. Já repararam na quantidade de Ermesindas ou Ermesendas que existiram nessas épocas remotas dos séculos oitavo ao século onze, e ainda vamos desvendar muitas mais.

    Continuemos agora com a crónicade outra Ermesenda:

    Ermesinda Eriz, Ermesinda Eiriz ou Ermesenda Eris,terá nascido no ano de 900, no seio duma família próxima ao poder, pois seu pai, Ero, conde de Lugo, era figura constante na corte. Por mandato do rei, Ero Fernandes de Lugo, conde de Lugo e senhor de Arões, pois procedeu à organização do território de Arões, actual São Romão de Arões, vila e freguesia portuguesa do concelho de Fafe, chegando ao ponto que lhe conferiu o próprio nome, nasceu em cª 845 e morreu em 5 de Fevereiro de 926, em Deza (anteriormente em terras portucalenses), hoje Pontevedra, Galiza, Espanha. Foi um aristocrata, nobre galego da Alta Idade Média, filho de Fernando de Rodriguez de Monterroso e de sua mulher Guntina (ou Oneca) Lucidiz, e um ancestral de várias linhagens galegas e portuguesas que se entroncaram com a mais alta nobreza de Portugal e dos reinos de Leão e Castela. Tendo casado primeiro com Adosinda Romanes e depois com Hermesinda Gutierrez. Teve os seguintes filhos: Ermesenda Eriz (que vamos tentar retratar), Teresa Eriz (?-929), Ilduara (Santa Ilduara) Eriz (875-948), Godo Eriz (?-960) , Gundesindo Eriz (?-948), Gugina Eriz (?-922), e Santa Godiña Eriz. Apesar de a sua residência principal ser em Lugo, onde com sua primeira esposa, a condessa Adosinda Monterroso, fundou o Mosteiro de San Salvador de Asma em Chantada, e com sua segunda mulher, a condessa Elvira, fundou o Mosteiro de Santa Maria de Ferreira de Pallares em Guntín, onde se aposentou quando sua esposa ainda estava viva. O conde Ero viveu durante os reinados de Afonso III e seus sucessores, e foi conde a partir do finais do século IX e as primeiras décadas do século X. Viveu na maior parte da sua vida, no Condado de Portucale a combater os mouros. Era avô de Rosendo de Celanova.

    A sua filiação não está documentada e só conhece-se, por seu patronímico, que seu pai foi um Fernando. A presença de outro conde na corte, Diogo Fernandes, iniciador de uma família poderosa no norte de Portugal, marido da Onneca possivelmente do reino de Pamplona, levou alguns historiadores a supor que Ero e Diogo eram irmãos, embora não haja provas documentais para confirmar este parentesco. Teve um irmão, Godesteu que poderia ser o ascendente de Ansur Godesteis, o fundador do Mosteiro de Arouca.

    Nesta época o papel da mulher aristocrata tinha como principais tarefas, a organizar e a gerir as actividades do lar, sabemos que os seus pais se preocuparam de instruir o máximo possível os filhos, pois foi comprovado que a sua irmã Ilduara possuía livros próprios e, portanto, capacidade de leitura, muito raro nestes tempos.

    Durante toda a sua juventude foi passada junto de seu pai, no seu palacete acastelado em Lugo e a sua presença na Cúria Régia de Afonso, como é confirmado por um diploma emitido pelo rei a 30 de Setembro de 899 quando Afonso entregou à Catedral de Santiago de Compostela várias vilas no território de Coimbra. Governou a tenência ou commisso do território de Lugo e a 7 de Julho de 910, estando em Lugo, confirmou um documento dirigido ao rei Ordonho II pelo qual os condes prometem restaurar as casas destruídas na cidade. Um ano depois, a 22 de Abril de 911, foi testemunha de um documento do rei Ordonho que confirma as doações da igreja de Santiago feitas por seus antecessores.

    Aparece pela última vez a 24 de Setembro de 926 confirmando a carta de dote que entregou Gunterico Arias à Gontrodo Gonçalves, neta do conde Ero. Provavelmente morreu pouco depois e foi enterrado no Mosteiro de Ferreira de Pallares que ele fundou com sua segunda esposa. Esta foi a sua vida junto com os seus pais e irmãos.

    Agora vamos falar do futuro marido.

    D. Arnaldo, nascido pelos anos de 875, cavaleiro de Bayonne, França, filho de Guido II de Spoleto (Gaio, 1938) (também conhecido por Wido II, duque de Spoleto e rei de Itália) e de Angiltrude,teria pouco afecto com o irmão o Imperador dos Romanos, sucessor de seu pai, e que foi coroado em 893, e ao ouvir os bons sucessos do rei de Leão na luta contra os Mouros de Espanha, passou à Península, onde acompanhado de alguns familiares e dos seus criados, viajou de barco aportando no local onde hoje é a cidade do Porto, lutando contra os mouros para ganhar terras e demonstrando bastante bravura, tendo sido chamado à Galiza, onde se encontrou com o rei Afonso III, o Magno, de Leão, estávamos nos anos de 899, sendo ainda vivo o pai de Afonso III, Ordonho, tendo testemunhado uma doação que o rei fez à Igreja de Santiago de Compostela, à Sé de Coimbra. Abençoado pelo rei, este concedeu-lhe terras a norte do rio Douro deslocando-se de imediato para a região baptizando-a com o nome de Baião, derivado da zona de onde provinha chamada Baiona, França.

    Provavelmente, nas guerras contra os mouros D. Arnaldo (agora, "de Baião") (ou Araldes, como considera A. de Almeida Fernandes), cruzou-se com Ero Fernandes de Lugo, com certeza juntaram forças para combater o inimigo comum. O uso germânico de casamentos políticos não é estranho a quem tenha estudado o mundo antigo ou medieval: trata-se de uma busca de apoios e lealdades, seja de maneira externa (entre reinos e dinastias antagónicas), seja no âmbito interno de um reino, entre casas aristocráticas ou famílias poderosas. Ora como, D. Arnaldo era solteiro e procurava integrar-se na nova sociedade em que vivia, assim como necessitava de uma companheira, para deixar descendência, apesar de contar já com alguma idade (talvez 28 a 30 anos) foi-lhe proposto o casamento com a filha de D. Ero Fernandes, cerca de 917 a 920, D. Ermesinda Eriz, que contaria com cerca de 17 a 20 anos de idade, dando origem família de Baião e posteriormente aos Azevedos.

    Assentando arrais em Baião, teve pelo menos um filho D. Ero Arnaldesde Baião, 2º senhor de Baião. Casou com D. Uzenda sua prima, filha de seu tio D. Gondesindo Eris Conde de Lugo, e de sua mulher InderquinaPalla irmã da rainha D. Elvira mulher do rei D. Ordonho II de Leão, e ambas filhas do Duque D. Mendo Guterres, foi oprimeiro senhor da quinta de Azevedo, que era de seu sogro D. Gondesindo, corno consta de uma escritura que se conserva no Mosteiro de Pedroso, e que continuou a genealogia dos de Baião.

    Ermesenda Eriz e toda a sua família fez toda a sua vida entre as suas terras de Fafe e a cidade do Porto, e no distrito do Porto. O marido entremeou as suas estadias entre o território do centro até Coimbra participando nas lutas constantes da reconquista com outros nobres de Portugal e da Galiza. Ermesenda Eriz terá falecido em cerca de 942, com 42 anos, na casa-torre apalaçada em Fafe.

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    1 Região da Galiza. Neste caso o "conde de Lugo" significa uma função militar, chefe de uma "mesnada", a seu inteiro sustento, e não um título nobiliárquico. "Mesnada" é um grupo de homens quase que profissionais da guerra, sustentados por um magnata, ou seja, homem rico e que poderia ser um delegado do rei nesse local.

    2 Sobre o topónimo 'Arões' existem pelo menos três teorias distintas: 1) a de provir do nome próprio 'Ero Fernandes', neste caso pelo genitivo 'VillaEironis' [Vila ou Terra de Ero] e de que derivariam as formas 'Aronis', 'Arones', 'Arõoes' e 'Arões'; 2) a de provir da palavra 'Aron' (derivado do germânico ara [altar]); 3) a de assinalar a abundância no seu solo de uma planta de nome 'arão', também conhecida por 'jarro'. Estes dados foram retirados do site http://juntaviladearoes.blogspot.pt/p/historia-da-vila-de-aroes-breve-resenha.html, em 4 de Dezembro de 2017.

    3 Já tratada em crónica anterior.

    4 Estes dados foram retirados do site https://www.geni.com/people/Ero-Fern%C3%A1ndez-conde-de-Lugo/6000000001412968233, consultado a 3 de Dezembro de 2017. É de fazer notar que existem autores que têm uma ideia diversa desta.

    5 Casou com o conde Gonçalo Afonso Betotes, filho do conde Afonso "Betote" e sua mulher, Mendes das Astúrias.

    6 Esta sua irmã que foi casada com Guterre Menendez, filho de Hermenegildo Gutierrez e de sua mulher Ermesinda Gatones (já tratada anteriormente), e outra das suas filhas foi Hermesinda Guterres, já falada noutra crónica anterior. Foi também mãe de San Rosendo, bispo de Dume. Foi co-fundadora com o seu filho San Rosendodo mosteiro de San Salvador de Celanova.

    7 Casou com Munio, filho de e de sua mulher, possivelmente tiveram apenas um filho.

    8 Casou com Godesteu Fernandes, filho de Fernando --- e de sua mulher (A sua filiação não está documentada e só conhece-se, por seu patronímico, que seu pai foi um Fernando).

    9 De acordo com Felgueiras Gayo, D. Arnaldo era irmão de Lamberto que fora Duque de Spoleto e da Toscânia e Imperador dos Romanos, coroado em 893 e "reconhecendo o dito D. Arnaldo o pouco afeito di Imperador seu irmão por ouvir os bons sucessos do Rei de Leão contra os Mouros de Espanha, passou acompanhado de criados seus a buscar terras de que fosse Senhor, e chegou à Galiza onde achou ao Rei Afonso Magno III de Leão sendo ainda vivo o Rei D. Ordonho seu pai pouco antes do ano de 899 e assinou com os grandes do Reino uma Doação que se fez a Igreja de Compostela, e de outras várias Igrejas a Sé de Coimbra empregou-se logo a fazer nas mesmas fronteiras guerras aos Mouros entre os rios Homem, e Cávado, e chegou à Vila de Barcelos, e Ribeiras do Douro no Concelho de Baião casou o dito D. Arnaldo com D. Ermesenda Eris filha de Ero Fernandes Conde de Lugo que era um dos Poderosos Senhores de Espanha filho do Conde D. Fernando descendente por varonia de Artamiro Rei Católico".

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    Por: Carlos Marques

     

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