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    Arquivo: Edição de 22-11-2013

    SECÇÃO: Editorial


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    Verão de S. Martinho

    Neste tempo incerto e chuvoso há sempre a esperança de uns dias de sol, e assim acontece no chamado Verão de S. Martinho.

    Sei que é sol de pouca dura, mas dá prazer ao corpo e aquece a alma.

    Caminhar na natureza nesta altura do ano é um deslumbramento, tempo de respigar, castanhas, nozes, cogumelos, uvas, maçãs, e nalgumas regiões espigas de milho.

    A paisagem veste-se de tons quentes e quando o sol brilha as árvores ficam douradas, cor de cobre, por vezes vermelhas alaranjadas. De quando em vez o vento levanta as folhas caídas num sussurro inebriante, que combina com este sol de S. Martinho que nos convida a largas caminhadas à procura do que ficou para trás.

    Na cidade já poucos conhecem esta tradição de percorrer os campos depois das colheitas, apanhar as uvas que ficaram nas vides, normalmente de uma intensa doçura; é uma prática que continua a dar muito prazer a quem gosta de andar aos “gaipos”.

    Respigar, reutilizar, reciclar são práticas que a sociedade de consumo desprezou.

    Hoje fala-se muito em reciclagem, que é importante para a conservação do planeta, mas a reciclagem nem sempre é tão amiga do ambiente como parece e tem custos elevados. Aproveitar o existente, sem gastos nem poluições é prática que a sociedade de consumo retirou do nosso quotidiano.

    Pequenos saberes que a sociedade desprezou ao nível da cozinha, da costura, dos trabalhos manuais, fazem toda a diferença, quer ao nível da economia doméstica, dos gostos, das modas e da poluição do universo.

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    A economia de uma casa era pautada por uma série de regras e rituais associadas à natureza.

    O tempo tinha uma ligação forte à vida, tudo se passava em função dele.

    Um tempo para nascer, um tempo para aprender, um tempo para fazer, um tempo para ensinar, um tempo para morrer.

    As grandes feiras e festas das colheitas também eram num “tempo” em função do sítio, do clima e das culturas.

    O S. Martinho que nos últimos anos nos tem brindado com umas belas chuvadas deve andar a acertar o seu calendário pelos novos tempos!...

    Todos os dias procuramos um raio de sol que nos aqueça a alma e ilumine um caminho, precisamos de sol, mesmo sem milho na eira S. Martinho não nos pode deixar mal!

    Já não vamos às feiras abastecer a casa com os produtos da terra, estamos mais preocupados com mais uns trapos, que vão substituir outros trapos, que por sua vez vão para o lixo, lixo que aumenta sempre, mesmo que seja com a boa consciência de que vai ser reciclado!...

    No S. Martinho fazia-se o balanço do que as terras produziram, do que havia na casa e do que era preciso comprar, vendiam-se os excedentes e compravam-se uns “luxos”.

    As grandes tarefas agrícolas tinham terminado, havia tempo para algum gozo e prazer. A feira era também esse lugar de encontro, de novos conhecimentos, de namoros que se iniciavam, de criados que se ajustavam.

    Da cidade vinham famílias fazer compras, visitar amigos e familiares, mostrar aos filhos os camponeses, os produtos genuínos de um passado ainda próximo, matar saudades de uma outra vida, de outros sabores.

    Hoje as feiras, para além de continuarem a ser lugar de venda de produtos e de festejos são muitas vezes motivo de exposições, representações de um passado que se tenta contar às novas gerações, umas vezes muito bem, outras não.

    Isto tudo misturado com muita música pimba, muito trapo e inutilidades.

    É o nosso tempo, mais uma vez as feiras estão com o tempo…

    Por: Fernanda Lage

     

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