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    Arquivo: Edição de 30-10-2011

    SECÇÃO: Editorial


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    Vale a pena parar para pensar

    Gosto dos silêncios, gosto de ter o meu tempo, admiro as pessoas que se retiram do reboliço do dia a dia e assumem um tempo para si, que acaba sempre por ser um tempo para o mundo. Como dizia o poeta, «sempre que o homem sonha o mundo pula e avança».

    Durante a minha vida de docente sempre li e reli, aconselhei e dei a ler aos meus alunos as obras de um designer, crítico de arte, escritor e até filosofo, Gillo Dorfles, que esteve recentemente em Lisboa e falou da ausência de tempo, de pausa, de silêncio.

    A Europa atravessa uma das maiores crises de sempre e não encontramos na comunicação social reflexões sérias que nos informem com verdade e apontem caminhos de mudança capazes de corrigir o passado e encarar o futuro com alguma segurança, tudo nos cheira a efémero, passageiro, avulso.

    No nosso país todos os dias há novidades que resultam de um primeiro impulso, de propostas que parecem resolver questões do tempo presente, quase sempre números. Está na moda a matemática, não tenho nada contra o estudo e aprofundamento desta ciência, até pertenço a uma minoria neste país que estudou matemática e fez a disciplina de Matemáticas Gerais na faculdade, o problema é outro, os homens são muito mais que números e cifrões e a felicidade não se compra nem se vende, conquista-se.

    Venderam-nos tudo, sempre em festa, promessas sobre promessas, e agora são os mesmos que aos poucos se dão ao luxo de invocar a democracia para retirar o que venderam e ainda os direitos alcançados.

    Apetece-me perguntar: que democracia é esta que promete para conquistar o poder e depois esquece tudo que prometeu, a bem de todos?…

    Estamos numa encruzilhada difícil, perdemos tudo, estamos nas mãos dos credores, prometeram-nos uma Europa unida e cada um está a safar-se como pode, ou melhor, à custa dos mais fracos.

    É preciso parar para pensar, e só depois negociar.

    Para Boaventura Sousa Santos é preciso pensar e reinventar Portugal:

    «Não obstante o período apinhado de urgências que vivemos, merece a pena reflectir dentro do momento como se ele tivesse janelas e ousar fazer propostas para além das imposições e contra elas. É muito o que está em causa.

    (…) A democracia que aparentemente controla o seu poder, parece sequestrada por ele. Vivemos um tempo de explosão da precariedade, obscena concentração da riqueza, empobrecimento das maiorias e incontrolável perda do valor da força do trabalho». (1)

    Quero crer que o país ainda está atordoado com tantas restrições e que é aparente esta passividade com que assistimos «ao desenvolvimento do subdesenvolvimento do nosso país». (1)

    (1) Boaventura de Sousa Santos, “Ensaio contra a Autoflagelação”, 2011, Almedina, Portugal.

    Por: Fernanda Lage

     

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