Recuar, recuar, recuar...
Há muito tempo que muitos de nós sentíamos que não era possível viver como vivíamos em Portugal. Um número significativo de pessoas viviam muito acima das suas posses e outros usufruíam vencimentos escandalosos em relação à maioria da população. Até aí estamos todos de acordo. Com o rebentar da crise era de prever que nada ia ficar como dantes, mas daí até à situação que vivemos agora vai uma grande diferença.
As últimas medidas apresentadas pelo primeiro-ministro, e que estão integradas na proposta de Orçamento de Estado para o ano de 2012, são um ataque profundo ao funcionalismo público e à classe média de uma forma geral. Nunca se recuou tanto de uma só vez.
Recuar até quanto? Com uma economia cada vez mais frágil, com o aumento dos desempregados, com salários mais baixos, com impostos cada vez mais altos é caso para perguntar, onde vamos parar?
Desde que as campanhas eleitorais se transformaram num jogo com batota tudo é possível, só assim se compreende que o que hoje é verdade amanhã seja mentira. Todos jogaram a fazer bluff, uns escondendo a real dimensão da dívida externa e outros, os que estão agora no poder, a representar o papel de bonzinhos, contra o aumento dos impostos e do custo de vida em geral.
Onde está a sensibilidade social tão apregoada nas campanhas eleitorais? Foram anos de luta e de conquistas que nos colocaram num patamar civilizacional que, aos poucos, nos aproximou dos outros países europeus. E de repente, como num sonho mau, tudo começa a desmoronar. Ninguém explica porquê, o primeiro ministro justifica-se com a troika e limita-se a dizer que tem que ser.
Com dizia D. Januário Torgal Ferreira em Fátima: «Às pessoas não apresentam provas da realidade das situações, para as quais eu tenho de despejar do meus bolsos o pouco dinheiro que tenho». Chegando mesmo a afirmar que tinha vergonha deste país! E justificava: «Tenho vergonha porque uma casa onde os mais pequenos não se podem sentar à mesa e comer do mesmo pão, que é o pão dos direitos e da dignidade, quem estiver a presidir à mesa deve sentir-se cúmplice».
Em momentos de crise precisamos de estar todos juntos, e que fazem os governantes?, declaram guerra ao funcionários públicos, numa primeira fase dividem os portugueses e, a seguir, aos particulares vão-lhes fazer seguir o exemplo.
Enquanto lhes convinha venderam dinheiro barato, tudo foi facilidades, mas esta subida exponencial da dívida externa deve-se acima de tudo aos juros que ninguém controla e poucos põem em causa.
Neste jogo financeiro, em que tantos perdem, alguém está a ganhar!…
Por:
Fernanda Lage
|