A caminho da Santa Rita
Aproximam-se os festejos da Santa Rita em Ermesinde e recuei no tempo uns cinquenta anos, percorri a Rua J.J. Ribeiro Teles desde a casa do Correio da época até à Igreja da Santa Rita.
A ladear a rua pobres mendigos expunham as suas mazelas, eram coxos, cegos, pernas cheias de feridas, eram ciganas que liam a sina, e que iam alternando com mulheres que vendiam “rocas” de cerejas, tremoços, azeitonas e “pirulitos” (ou chupa-chupas). Quanto mais nos aproximávamos da zona que envolvia a Igreja a variedade de produtos ia aumentando, doces tradicionais, o doce da Teixeira, as farturas, brinquedos de lata e madeiras, bolinhas de serrim, cerâmicas e cestarias tradicionais, garrafas de refrigerantes, os famosos “pirolitos” (ou gasosas) e laranjadas. De onde a onde lá aparecia um homem ou um rapaz carregando um cântaro às costas a vender refresco de água, limão e açúcar e, por vezes, com um pouco de água ardente. Para proteger do calor o conteúdo dos cântaros estes eram revestidos de cortiça e heras. Dizem que também vendiam água natural ao copo. Como não havia ASAE os nossos pais recomendavam-nos para não bebermos “pirolitos” ou outros refrescos nem chuparmos “pirulitos”, pois estes eram feitos de “ranheta”…
Hoje os “pirulitos” estão na moda e os refrescos também.
A tradição de juntar à água um xarope, ou uma planta aromática que se adoçava com mel é muito antiga e só mais tarde é que apareceu o açúcar, ainda hoje há quem utilize mel em vez de açúcar.
Por promessa ou por passeio, uma caminhada até à Santa Rita é uma boa proposta para um fim de tarde e não deixe de entrar na Igreja, sempre muito bem arranjada de flores frescas. Nos tempos que vão correndo faz todo o sentido implorar com fé junto da Padroeira das causas impossíveis.
A velocidade dos acontecimentos deste meio século é realmente fabulosa, e as suas implicações sociais impensáveis.
A Santa Rita trazia a Ermesinde milhares de peregrinos que em rusgas caminhavam de Matosinhos, da Maia, de Gondomar, Santo Tirso, Paços de Ferreira, da cidade do Porto e de muitas outras terras das redondezas. Da beira-mar vinham os pescadores, grandes devotos de Santa Rita.
Nessa altura, ainda muito pequena, gostava de ver a procissão e de andar no carrossel, e lá ia ouvindo a minha avó a contar acontecimentos relacionados com a festa. Segundo ela em Ermesinde havia uma família a quem chamavam por alcunha “Santa Rita”, pois o povo não teria gostado de ver um homem com umas grandes barbas e bigode vestido de Santa Rita, como era hábito nessa altura para cumprir uma promessa.
Agora que já não há espaço para os antigos piqueniques e a população anda preocupada com os locais para as diversões, parece-me mais atinado pedir com muita fé à Santa que ajude este país a recuperar da crise, o país vive um momento muito semelhante à da simbologia da velha fábrica abandonada, e que quando ainda estava em funcionamento, em dia de festa as tecedeiras iam cumprimentar o patrão que, na sua residência, fazia questão de se deixar fotografar com elas.
Hoje a fábrica é apenas a lembrança de uma indústria têxtil que desapareceu por completo na nossa região.
Por:
Fernanda Lage
|