“Meu Deus, porque os abandonaste?...”
Não é fácil aceitar tudo aquilo que aos olhos dos humanos não tem explicação, o tremor de terra no Haiti tem explicação científica, o local também, mas o sofrimento de um povo que vive no limiar da pobreza não faz sentido.
É muito difícil, em pleno século XXI, aceitar que pode ter sido uma bênção dos Deuses que recompensará numa outra vida todo este sofrimento.
Não consigo imaginar esse paraíso turístico ao lado de tanto sofrimento, há imagens que jamais esquecerei, o mar de favelas no Rio de Janeiro e em S. Paulo. Nunca estive no Haiti, mas as favelas são iguais em todo o mundo.
Tocou-me profundamente aquele som de cântico e reza daquela primeira noite, perante desgraça deste tamanho, compreendemos como somos felizes neste jardim à beira mar plantado!...
Seremos mesmo?
É evidente que, nesta relatividade de extremos, perdemos a vontade de equacionar o que por cá vai mal, e parece que vai mesmo mal, mas não chega dizer que vai mal. É importante neste início de ano perceber que cada um de nós tem a obrigação cívica de estar atento, de intervir, cada um a seu modo, no sentido de melhorar a vida à nossa volta, de participarmos nas iniciativas da nossa terra, do nosso bairro, do nosso lugar, das nossas associações, dos nossos clubes, da nossa paróquia, da nossa igreja.
Ainda não é visível, mas continuo a acreditar que temos de mudar de vida para ultrapassar esta crise, e ela passa por deixarmos de pensar só em nós e olharmos um pouco mais à nossa volta, não é tarefa fácil enquanto se continuarem a premiar os “chico-espertos”.
Não acredito numa sociedade narcisista e individualista, acredito na força das comunidades, no papel da cultura, nas sociedades esclarecidas e humanizadas.
Por isso iremos continuar atentos ao que por cá se passa, ajudando e divulgando as diferentes iniciativas que contribuam para aproximar as pessoas que acreditam que podem ter uma palavra a dizer para melhorar a nossa sociedade.
Por:
Fernanda Lage
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