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    Arquivo: Edição de 31-12-2008

    SECÇÃO: Editorial


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    A minha árvore de Natal

    Foto LUÍS LAGE
    Foto LUÍS LAGE
    Este ano a natureza encarregou-se de enfeitar todas as árvores à volta da minha casa, a dificuldade foi escolher qual seria a minha eleita, costumo escolher carvalhos, mas optei por um jovem castanheiro, ainda com alguns ouriços, que cobertos de neve compunham a Árvore de Natal perfeita. E na minha mente desfilaram, um a um, todos os desejos que transportei para cada uma daquelas bolas pinceladas pela neve.

    Talvez por isso, neste Natal lembrei “O Cavaleiro da Dinamarca”, de Sophia de Melo Breyner Andersen: «(…) No entanto, a maior festa do ano, a maior alegria, era no Inverno, no centro do Inverno, na Noite comprida e fria do Natal.

    Então havia sempre azáfama em casa do Cavaleiro. Juntava-se a família e vinham amigos e parentes, criados da casa e servos da floresta. E muitos dias antes já o cozinheiro amassava os bolos de mel e trigo, os criados varriam os corredores, e as escadas e todas as coisas eram lavadas, enceradas e polidas. Em cima das portas eram penduradas grandes coroas de azevinho e tudo ficava enfeitado e brilhante. As crianças corriam agitadas de quarto em quarto, subiam e desciam a correr as escadas, faziam recados, ajudavam nos preparativos. Ou então ficavam caladas e, cismando, olhavam pelas janelas a floresta enorme e pensavam na história maravilhosa dos três reis do Oriente que vinham a caminho do presépio de Belém.

    Lá fora havia gelo, vento e neve. Mas em casa do Cavaleiro havia calor e luz, riso e alegria».

    Longe do bulício da cidade, aparentemente longe de tudo e de todos, eu consigo ter junto de mim todos, mas mesmo todos os que me são mais queridos. E este Natal foi assim, muito quente, luminoso, aconchegado, enquanto lá fora a neve cobria a natureza e os passarinhos se abrigavam nos buracos que encontravam, os cães andavam felizes (a neve não os perturba), e quanto à única perdiz que vi, correndo na neve, pareceu-me um pouco assustada.

    Foi também assim que eu vi o Mundo: enquanto uns se sentem seguros, com uma refeição abundante, junto dos que amam, lá fora é o gelo, é a guerra, é a fome, é a opressão.

    A natureza estava deslumbrante, até a mais humilde planta estava enfeitada, este nevão foi muito uniforme em termos da quantidade e da forma como a neve caiu, mas a diversidade das plantas, das pedras, dos muros, dos troncos, tornaram a paisagem extremamente rica e formalmente multifacetada.

    Também este planeta aquecido pelo mesmo sol, e nesta época iluminado pela mesma luz, será capaz de quebrar o gelo entre os homens, de compreender as diferenças, de deixar construir a diversidade em função dos diferentes credos, crenças, tradições e direitos?

    Que esta crise, que não é só financeira, nem só económica, resulte num ponto de viragem profunda, que cada um encontre a casa do Cavaleiro da Dinamarca e que o gelo, a neve e o vento sejam, apenas e só, um maravilhoso espectáculo que a natureza sabe e consegue gerir, se o homem não continuar a atentar contra ela.

    Estes são os meus sinceros votos para o novo ano.

    Por: Fernanda Lage

     

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