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    Arquivo: Edição de 20-12-2007

    SECÇÃO: Opinião


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    Nem sempre rainha, nem sempre galinha

    Uma notícia publicada no JN de há dias, com o título “Centro histórico cobiçado por empresários espanhóis”, despertou-nos a curiosidade para a ler e, depois, para saber algo mais sobre a AMIGaia (Agência Municipal de Investimento) de que é presidente do Conselho de Administração o Embaixador António Martins da Cruz. O primeiro “apetite” surgiu em consequência da citada notícia dar nota de uma conferência sobre as “Relações Luso-Espanholas e Oportunidades de Investimento em Vila Nova de Gaia”, seguida de um almoço em que estiveram presentes cento e cinquenta empresários espanhóis oriundos de várias cidades do país vizinho (Vigo e Corunha) a quem foi dada a oportunidade de visionarem um “PowerPoint” com dados e estatísticas sobre as vantagens de investimento em Vila Nova de Gaia. E, a avaliar pelas declarações do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português - «não saímos daqui com um cheque no bolso, mas abrimos mais oportunidades de investimentos» – a iniciativa não terá sido um “flop”, tendo em conta as declaração do presidente da “Agência” quando referiu que «até agora já temos a promessa de investimentos avaliados em cerca de mil milhões de euros».

    A segunda curiosidade levou-nos a saber o que é a AMIGaia, os seus objectivos e a sua estrutura orgânica. Soubemos, então, que se trata de entidade criada pelo município de Vila Nova de Gaia que, como «interveniente inconformado, dinâmico e indutor de ambição nos agentes locais, privilegia a implementação de acções inovadoras na procura do estímulo ao desenvolvimento empresarial, na promoção da criação de emprego e no desenvolvimento sustentado da economia local». Que elenca, como objectivos, o apoio à inovação tecnológica, a modernização do tecido económico local e o estímulo de um ambiente favorável ao investimento local. Elegendo, como áreas de intervenção, o fomento e acolhimento de novos projectos para o concelho, o apoio à internacionalização das empresas locais, a gestão e construção de novas áreas de acolhimento empresarial e a promoção de parcerias com agentes privados e instituições de relevante interesse para o tecido económico concelhio. Dotada de um conselho de administração e de um director-geral, a “Agência” está estruturada com três unidades orgânicas: Unidade de Planeamento e Execução, Unidade de Apoio ao Investimento e Unidade de Suporte Operativo.

    Como moldura do assunto de que nos ocupamos hoje, deixamos aos estimados leitores a seguinte historieta: conta-se que certo monarca que gostava de dar as suas “escapadelas”, certo dia foi admoestado pela rainha que, como é compreensível, revelou-se agastada com o comportamento do consorte, lembrando-lhe a lealdade que jurara na cerimónia do casamento. Aparentando compreensão para o “ralhete”, o soberano deu instruções à cozinheira para passar a servir unicamente galinha a todas as refeições, o que ela cumpriu religiosamente. Tão religiosamente e durante tantos dias, que a rainha, já farta de ser obsequiada sempre com o mesmo prato, questionou se não haveria outro menu para as refeições. Foi então que o “marialva” reinante lhe observou: nem sempre rainha, nem sempre galinha.

    Relatada a variante do provérbio “nem sempre galinha, nem sempre sardinha” e esboçado a traços largos o conhecimento sobre a AMIGaia, o verdadeiro objectivo destas linhas é recordar que, embora não seja prática reiterada utilizarmos este espaço concedido pel’ “A Voz de Ermesinde” para elogiarmos os executivos municipais (os militantes e simpatizantes dos partidos que os apoiam fazem-no melhor que ninguém), tal “praxe” não deverá ser impeditiva de o fazermos sempre que surjam oportunidades, como é o caso de que agora nos ocupamos.

    Com efeito, desta iniciativa da CMG parece-nos interessante salientar os seguintes ensinamentos: sendo uma entidade orientada para a captação de investimento estrangeiro, a escolha de um diplomata e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, revela inteligência de seleccionar quem inegavelmente reúne condições e saberes para, como é afirmado, estabelecer pontes de contacto com o mundo dos agentes do empreendorismo e investimentos, personalidade com capacidade de fazer da Agência não só uma âncora de negócios, mas também uma ponta de lança para captar a atenção e interesse dos empresários internacionais, promovendo acções em algumas praças da alta finança como Nova Iorque, Londres e Madrid, preparadoras para “vender” o Centro Histórico de Vila Nova de Gaia em países como: Dubai, França, Alemanha e Brasil.

    Como segundo reparo parece legítimo e oportuno questionarmos: os investidores portugueses não serão capazes de identificarem as oportunidades que os estrangeiros enxergam existir em Portugal? O que lhes faltará para privilegiarem nos seus investimentos a execução de projectos que contribuam para o desenvolvimento da economia nacional, para aumentar o emprego, modernizar as nossas cidades, desenvolver o turismo, numa palavra, tornar Portugal mais dos portugueses e menos dos estrangeiros?

    Como terceira e última consideração, ocorre-nos salientar o que poderia e deveria ser feito pelas nossas autarquias caso nos seus programas de acção a palavra de ordem fosse orientar a afectação dos seus recursos, financeiros e humanos, para iniciativas como as da Câmara de Vila Nova de Gaia, em vez de gastarem o dinheiro em eventos de vida efémera e de resultados mais que duvidosos, alheados da degradação dos equipamentos sociais, do emprego que desaparece sem que outro surja em qualidade e quantidade que fixe as populações nos territórios onde nasceram e residem, em suma, despreocupados com os problemas que realmente afectam as populações que eles, os autarcas, poderiam e deveriam minorar.

    Em plena quadra natalícia, fazemos votos que o Menino Jesus ponha no sapatinho dos autarcas em geral e dos do nosso Concelho em particular, uma nova visão de exercerem as funções, soprando-lhes ao ouvido a necessidade de monitorizarem os proveitos sociais versus os custos suportados com os impostos dos munícipes, impelindo-os a trocarem os caminhos do despesismo e da insensibilidade, por preocupações sociais e iniciativas que valorizem a qualidade de vida dos cidadãos: dos que lhe confiaram o voto e dos outros.

    Uma palavra para desejar um Santo Natal com muita alegria e saúde, e um Ano Novo repleto de sucessos para os leitores e colaboradores que asseguram a publicação de “A Voz de Ermesinde”.

    BOAS FESTAS para todos!

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

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