Outono inseguro, Inverno incerto...
Durante todo o século XX o Homem lutou por um estado social, por reformas condignas, por estabilidade nos empregos, pelo direito ao trabalho, à educação, à saúde.
Entramos no séc. XXI e tentam convencer-nos que tudo foi em vão, o emprego é precário porque só desta forma se seleccionam os “melhores”, a sociedade do futuro só empregará pessoas excelentes, prontas para tudo.
A mobilidade é a palavra de ordem, as famílias encontram-se de vez em quando, os filhos não lhes reconhecem autoridade, a educação passa a ser da responsabilidade das instituições, creches, escolas e colégios, e aos professores tudo lhes é exigido – na aula na escola e até em casa.
Os jovens imitam os adultos, vivem o dia a dia não importa à custa de quem, nada de compromissos, vai-se adiando, adiando, como se fosse possível adiar a vida…
Os que entram agora no “Outono” e que tiveram um passado de luta no dia a dia, convencidos que lutavam por um mundo melhor, solidário, que acreditaram que era possível chegar ao Outono e confiar num Inverno confortável e seguro, hoje interrogam-se, quem falhou?
Há dias uma minha tia dizia-me:
- Não estou preparada para esta situação de isolamento, de egoísmo, quem falhou, fui eu que não soube educar ou não fui educada para isto?
Vivemos num mundo descartável, descartam-se os filhos, descartam-se os idosos, descartam-se os doentes, descartam-se os trabalhadores e vai-se à procura de outros mundos que nos dêem uma solução à medida.
Fecham-se as fábricas, despedem--se os operários e vai-se abrir em outro país onde há mão-de-obra barata (ainda que desqualificada).
Continua a acreditar-se demasiado na tecnologia, pensa-se que tudo se resolve, adia-se…
Se uma empresa é altamente poluente, muda-se de país, para bem longe, desde que vá poluir os outros, tudo bem!...
Algumas empresas, as chamadas multinacionais, cresceram tanto que passaram a considerar o Globo como seu espaço geográfico, procurando tirar partido das diferentes ofertas de oportunidade que os diferentes países oferecem, especialmente os mais pobres.
Dentro desta lógica tudo é efémero e a minha geração não está preparada para esta forma de viver.
Nunca pensamos chegar ao Outono sem certezas, sem calma e paz para encarar o rigor do Inverno…
Por:
Fernanda Lage
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