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    Arquivo: Edição de 15-02-2007

    SECÇÃO: Cultura


    A.V.E. JOVEM

    D a s • a r t e s • e • d a s • l e t r a s

    O tempo vai mudar. Penso isso enquanto observo as nuvens a galopar no céu, como cavalos negros cobertos de uma poeira meia cinza meia azul. Deito-me a perder. Deito-me a olhar, e a sentir-me um céu onde as nuvens passam e me lambem o sonho. Começa a chover. Primeiro gotinhas pequenas, mas depois à medida que outras nuvens chegam ao mundo, começam a chover gotas maiores e mais espessas. Eu sempre pensei que a chuva são bocadinhos de céu que caiem. Mas toda a gente pensa que são só gotas, é só água que nos lava o corpo. Por mais explicações que me vendam, e que me consumam a dizer que a água da chuva é a água dos mares e dos rios e dos lagos, para mim a chuva são bocadinhos de céu. E é tão bom, sair para os bocadinhos de céu, e apanhá--los um a um com as mãos, e vê-los escorrer pelos dedos, ficando e parando aqui e ali onde as dobras da pele são mais fundas e os bocadinhos de céu se juntam todos formando um céu pequenino. E eles escorrem por mim, e entram-me nos lábios, colando-se ao céu-da-boca, tão doces e doces. E eu digo a todos os que pensam que a chuva é água, venham amar os pedaços de céu, venham rasgar a alma neste trago de céu, venham desfazer o céu e guardá-lo em vocês, venham passar a mão no céu sem deixarem os pés sair do chão…

    Ah! O tempo vai mudar. Eu sei que vai, ou é o que eu quero dizer? Ou é o que o meu corpo me pede? Ou é a minha boca que não pára de repetir, o tempo vai mudar? Ou é o céu que quer passar nas minhas mãos e deixar-se quieto, porque está farto de ser olhado e adorado? Ou é o tempo que me corre nas veias, que pede para ser mudado, nem que seja pelas nuvens? Chiu. Os bocados de céu respondem ao que não sei, escorrem-me na alma, e aquecem-me as perguntas. O tempo vai mudar, mas nunca muda. Eles dizem-me isso, e eu respondo que sim com a cabeça. As pessoas que acham que a chuva é água não percebem, mas eu sim…os pedaços de céu também me percebem, e ficamos nós a perceber, ficamos os múltiplos a perceber…

    O tempo vai mudar, mas nunca muda. Sim, é isso…

    Recolho-me a mim mesma, e deixo os céus nos seus lugares…Um pouco de céu na mão, um pouco de céu no umbigo…tenho o céu em mim, e ele está longe…é bom, e ao mesmo tempo sei que embora o tempo mude, ele nunca vai mudar.

    Por: Sofia Nunes

    Sou o reflexo de mim em mim mesmo.

    Sou o abismo entre as vozes e as danças.

    Eu sou o preto.

    Sou a morte.

    Eu não sou aquilo que vocês querem que seja.

    Eu sou um vulto sem destino.

    Eu sou não sei bem o quê.

    Eu sou um corpo largado no meio da estrada.

    Eu sou...

    Por: Daniela Ramalho

    Ali estávamos nós no escuro. Despidos de todas as mentiras, todas as farsas, todas as máscaras. Ouvimos as nossas vozes que não podem mentir ou seremos um objecto de tortura. E as palavras desfilam uma a uma e dentro eu vou formando um caos. Dentro um caos.

    As borboletas tropeçam contra as paredes do meu ser deixando o seu rastro de pó, pintando as minhas entranhas de azul, de violeta, de preto, de vermelho, de sangue.

    Os malmequeres são desfolhados lentamente no escuro, as palavras são ditas devagar para ter a certeza de que não falha um detalhe. Nem uma pequena palavra que faça a união dos significados nas entrelinhas.

    Não ficamos em silêncio e as palavras ficam a moer, moer, moer, até que ambos somos apenas areia fina e escura, expelidos de um vulcão.

    A sala vai aumentando o seu volume enquanto os nossos corpos flutuam por entre as palavras. Não somos os únicos no universo, mas gostávamos de ser, não somos os únicos seres consumidos neste lugar, mas pensamos ser durante todo este tempo.

    E à medida que as dores fluem e dão lugar às mágoas, nós vamos sentido cada vez mais que o amor é vão…

    Por: Daniela Ramalho

     

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