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    Arquivo: Edição de 30-11-2006

    SECÇÃO: Cultura


    As Lutas Liberais no Concelho de Valongo (I)

    No mês em que o concelho de Valongo perfaz exactamente 170 anos sobre o decreto liberal que o criou, “A Voz de Ermesinde” aceitou (o que agradeço, sobretudo, pela oportunidade de dar a conhecer mais um pouco da nossa história local) publicar a “Comunicação”, com o título acima, que tive ocasião de apresentar, a convite da Universidade do Minho, no passado dia 27 de Outubro de 2006, no IV Congresso Histórico de Guimarães, que tinha como tema abrangente: “Do Absolutismo ao Liberalismo”. Por que se trata de um texto bastante longo, resolvemos dividi-lo em quatro partes, de modo a facilitar a sua leitura por parte dos interessados no tema, que também muito tem a ver com a nossa cidade. Aí fica, pois, a 1ª parte.

    Desembarque do Exército Liberal em Arnosa do Pampelido (quadro de Roque Gameiro)
    Desembarque do Exército Liberal em Arnosa do Pampelido (quadro de Roque Gameiro)
    1. INTRODUÇÃO

    O actual Município de Valongo (no “Grande Porto”) ainda não existia no tempo em que se deu a Revolução Liberal Portuguesa (24 de Agosto de 1820, na “capital” do Norte), nem quando ocorreu a Guerra Civil (1832-1834), evento histórico em que se inscreve o tema da presente comunicação.

    Este novo Município resultou da reforma administrativa, empreendida em 1836, logo após o definitivo triunfo do movimento liberal, com a vitória sobre os partidários de D. Miguel.

    Efectivamente, na região a Norte do Douro e a Nordeste da cidade do Porto, pegando com a área geográfica do Município de Gondomar, criar-se-ia o Concelho de Valongo como sinal de homenagem e gratidão ao povo valonguense pela alegada ajuda aos liberais nestas guerras, e, sobretudo, pela considerável influência do ilustre valonguense, António Dias de Oliveira (importante político português deste tempo que, entre 2 de Junho de 1837 e 10 de Agosto do mesmo ano, foi Primeiro-Ministro de Portugal).

    Oito anos sobre a Revolução Liberal, desembarcou em Lisboa (1828) o Príncipe D. Miguel, depois de haver jurado cumprir a Carta Constitucional de 1826. Mas a verdade é que, com a sua regência, regressou o Absolutismo a Portugal e D. Miguel é aclamado Rei, segundo os cânones tradicionais. Mais uma vez, coube ao Porto um papel primordial, no combate pela Liberdade.

    De 1832 a 1834 travou-se a Guerra Civil, entre Liberais e Absolutistas. Toda a região envolvente do Porto foi, desde o Verão de 1832 até ao Verão do ano seguinte, profundamente molestada por estas guerras, em que os Liberais centrados no Porto, se defenderam, como puderam e quase sempre com a ajuda popular, do Cerco que os Absolutistas lhe apertavam de dia para dia.

    As terras do futuro Concelho de Valongo serviram, pois, de palco a batalhas e aos movimentos militares que se desencadearam entre os dois irmãos desavindos: D. Pedro, que entretanto abdicara do trono imperial do Brasil, e D. Miguel, que não abandonava o poder nem os seus ideais Absolutistas.

    Os combates mais trágicos do início deste conflito, a Norte do Douro, tiveram lugar, precisamente, no território do actual Município de Valongo, desde o vale do Rio Ferreira, nas freguesias de Sobrado e de Campo (a Leste) até às proximidades do Convento da Mão Poderosa, na freguesia de Ermesinde (a Oeste), passando também pelas freguesias de Valongo, Campo e Alfena.

    2. DESEMBARQUE

    DO EXÉRCITO

    LIBERAL

    Depois de desembarcar em Arnosa do Pampelido, a 8 de Julho de 1832 (Praia da Memória), o exército liberal, estimado em aproximadamente 7 mil e 500 homens (alguns dos quais mercenários estrangeiros), superiormente comandados por D. Pedro, instala-se na cidade do Porto, no dia seguinte.

    As tropas absolutistas de D. Miguel haviam, entretanto, deixado a cidade, não oferecendo praticamente resistência à entrada do exército “libertador”.

    No entanto, os liberais, pouco a pouco, iam ficando cercados na cidade do Porto pelas forças miguelistas (que integravam dez vezes mais soldados que o exército liberal), constituídas, efectivamente, por cerca de 80 mil homens comandados pelo General Álvaro Xavier Póvoas e pelo Visconde de Santa Marta.

    Para evitar que o cerco se tornasse demasiado constrangedor, D. Pedro mandou os seus homens ao encontro do exército inimigo, para reconhecer as posições ocupadas e adiar o mais possível a sua aproximação ao Porto.

    As principais operações militares, entre liberais e absolutistas, que, segundo algumas fontes, provocaram maior número de vítimas, ocorreram entre os dias 21 e 23 de Julho precisamente em terras que, actualmente, integram o Concelho de Valongo.

    3. LUTAS LIBERAIS

    NO CONCELHO

    DE VALONGO

    De facto, alguns dos combates mais trágicos (pela mortalidade provocada), no início desta Guerra Civil, tiveram lugar, na Serra de Valongo (o último reduto montanhoso antes da cidade, no sentido Nordeste), entre os vales do Rio Tinto e do Rio Ferreira.

    No dia 19 de Julho, Santa Marta estabelece a sua 1.ª brigada no lugar de Sobrado (uma das freguesias do actual concelho de Valongo).

    A 21 de Julho, escolhe e toma posições de combate do lado de lá da Ponte sobre o Rio Ferreira (lugar da Gandra – concelho de Paredes). As suas forças, segundo Luz Soriano, rondariam os 12 mil homens, com quatro esquadrões de cavalaria (200 cavalos) e cinco peças de artilharia. Um dos esquadrões fixou-se em Valongo, enquanto os homens encarregados do reconhecimento dos movimentos do inimigo, subiram à Serra de Valongo, vigiando a encosta que dá para Ermesinde, Baguim do Monte e Rio Tinto, donde há uma excelente visibilidade sobre a cidade do Porto.

    Para fazer o reconhecimento do inimigo, D. Pedro fez sair do Porto, em direcção a Valongo, na madrugada do dia 22 de Julho, o Batalhão de Caçadores n.º 5, o Batalhão da Rainha, o Infantaria 18 e ainda 80 guias a cavalo, sob o comando geral do Coronel Henrique da Silva Fonseca. Esta força passou em Rio Tinto às 8 horas da manhã, avistando nessa altura os “guias” do exército de D. Miguel no alto de Valongo e, embora aqueles recuassem, perseguiu-os, fez-lhes frente, e combateu-se logo ali, na descida para Valongo, havendo vítimas de ambos os lados, mas em maior número do lado liberal, que tinha menos homens e se encontrava numa posição no terreno bem mais fragilizada. Seguiu-se a fuga desesperada e desorganizada para Rio Tinto, ordenada “in extremis” pelo comandante Silva Fonseca. Do lado liberal, caíra morto o corajoso, e ainda muito jovem, Tenente Narciso de Sá Nogueira (foi a 1.ª baixa de algum destaque nesta guerra civil).

    D. Pedro reagiu de pronto. Transferiu a maior parte das tropas que tinha a Sul do Douro para a margem Norte e, na noite seguinte (de 22 para 23 de Julho), sob o seu próprio comando (enquanto a defesa do Porto fica entregue ao Governador Militar), o grosso do exército cartista avança determinado a combater o exército absolutista, em direcção a Valongo.

    As forças liberais dividem-se à saída do Porto: umas seguem o itinerário mais próximo do Rio, a estrada de S. Cosme (que leva a Gondomar); outras avançam pelo centro, percorrendo a estrada de Valongo, via Rio Tinto; e a ala esquerda do exército “libertador” marcha pelo caminho da Formiga.

    Por: Manuel Augusto Dias

    (continua no próximo n.º)

     

     

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